sábado, 31 de julho de 2010

• Ar - i - esse - pi - i - ci - ti...

...find out what it means to me.

Also sprach Zarathrusta, perdão, eu queria dizer a boa da Aretha Franklin.

Como provavelmente já se aperceberam, leitores e eleitores, vai-se aqui falar de Respeito. Conceito antiquado e muito olvidado hoje. Em parte porque nos quiseram incutir durante muito tempo o "respeitinho".

Este último era-nos lembrado e exigido à lei da força e com força de lei por aqueles que nos governaram até à data da perda desse devido "respeitinho" por um grupo de militares subalternos num dia do mês de Abril, faz mais de 26 anos agora.

O "respeitinho" era a ser prestado a esses que nos governavam, tornado obrigatório por estes aos outros, os governados. Que tinham de respeitar não só as altas hierarquias mas toda e qualquer hierarquia. Qualquer dito "superior". E como em sistemas sociais podres, nem sempre os de maior mérito se tornam superiores dos seus pares, tinhamos assim de ter respeito por uma série de canalhas, imbecis, tolos e outros inadequados à sua posição. Só porque foram empurrados e subiram um degrau mais do que os outros na escala social. Bendito Abril que tornou isto muito menos provável de acontecer. E sobretudo muito mais passível de ser combatido.

Ainda bem que perdemos o "respeitinho". Pena que nessa embalagem tenhamos muitos de nós perdido também o respeito simples. O respeito pelo seu semelhante. Teremos todos de envidar agora esforços por nos respeitarmos todos mais uns aos outros.

Sugiro que comecemos por respeitar mais aqueles que nos servem e dos quais precisamos. A saber:

Respeitemos mais o bombeiro voluntário que dá o seu tempo por todos nós e não lhe exijamos mais do que este pode dar.

Respeitemos mais o funcionário público atrás do balcão que não está ali só para atender cada um de nós em exclusivo, como alguns facilmente esquecem, mas antes todos e não digamos nada de desagradável a este, mesmo que não estejamos satisfeitos pessoalmente com as suas acções, das quais esperávamos mais benefícios próprios inicialmente.

Respeitemos mais o empregado da cafetaria que não nos trouxe a meia de leite exactamente como nós desejávamos e tenhamos paciência. Da próxima vez teremos de ser mais explícitos na formulação do nosso pedido.

Respeitemos mais o assistente de call-center, que está a representar uma corporação mas que é, antes de mais, um simples nosso semelhante ser humano. Se queremos as nossas pretensões escutadas e atendidas por este, é inteligente não começar por ostensivamente hostilizar a corporação ou o ser humano. A resposta deste será sempre melhor assim.

Respeitemos mais o pároco da nossa freguesia e, na celebração do rito, saibamos comportarmo-nos dignamente e não permitamos que aqueles por quem somos responsáveis, os nossos petizes, adoptem comportamentos não condizentes com o local, ou seja, o templo. Eu sou ateu e em todo o templo em que adentro nada faço que possa perturbar a celebração da fé daqueles que a têm.

Respeitemos mais aqueles que fazem serviços de acompanhantes, pois estes ou estas não merecem o menosprezo que às vezes lhes devotamos. Merecem tão-só o mesmo respeito dado a todos por todos, pois são nossos iguais. E depois, todos nós nos prostituimos.

Respeitemos mais o agente da autoridade ou segurança que toma medidas para nos proteger, mesmo que essas medidas nos pareçam nesse instante contratempos.

Nestes 3 últimos exemplos englobei os 3 P's que a minha avózinha materna detestava: padres, putas e polícias. Grande senhora foi a minha avó, digo-vos, mas é preciso ser maior ainda e não rebaixar estas 3 categorias profissionais que também existem para nos servir.

Mas é preciso respeitar mais do aqueles que nos servem. É preciso respeitar aqueles que parecem à partida não merecer tanto o nosso respeito colectivo. Falo daqueles que, além de não nos servirem, nos pedem ainda que os sirvamos. Daqueles desafortunados de nós que nas ruas mendigam.

Acreditem: para nós é muito mais fácil dar do que para eles pedir. Se duvidam, experimentem um dia vestir a pele dum pedinte. Eu por mim, quando me pedem ajuda monetária, dou sempre uma moedinha. Nada me custa e nem à maior parte de nós custará fazer o mesmo, bem lá no fundo.

Nem quero saber se a dita moedinha irá ser usada para satisfazer um vício. Eu também tenho os meus vícios - todos temos - e se os deuses me permitem a fruição desses vícios, como vou eu negar que um semelhante meu, dependendo de mim circunstancialmente, possa gozar os seus?

Bom, mas se afinal nada quiserem ou poderem dar a uma mão estendida na vossa direcção, ao menos não virem a cara, não finjam que não vêem, não baixem os olhos. Nem ao menos uma palavra de conforto conseguem extraír do vosso egoísmo?

E por último, temos de voltar a respeitar aqueles que faz muito perderam totalmente o nosso social respeito. Aqui falo dos que nos governam. Não que ressuscitemos o antigo "respeitinho", nada disso. Mas antes que os respeitemos pelo tempo da sua vida que dedicam a todos nós e ao nosso bem-estar.

Deixemos de pensar que eles só querem é poleiro e encher-se à nossa custa, por favor. Isso não existe. Não é na coisa pública que mais se enriquece ou mais rapidamente o nosso património cresce. Isso é na iniciativa privada. Ou no crime de colarinho branco. Ou no BPN de há uns anitos atrás, onde estas duas áreas se conjugavam.