sábado, 15 de janeiro de 2011

• Fiat lux!...

Aos quinze dias deste mês de Janeiro do anno da graça de MMXI, eu vi finalmente a luz.

Foi necessária alguma dor, mas eu vi-a. Foi ao sentir uma circunstancial total ausência de emoções no diálogo com quem nem faz ainda um trimestre me presenteava com generoso carinho e afecto e, quiçá, algum amor, que eu percebi o meu principal handiicap sentimental.

Verdade seja dita que a mão procurou ser emendada algumas horas depois. E eu devia estar grato por isso a ela, mas estraguei tudo de novo, porque já não sei o que digo ou o que faço.

Ajudou-me também antes ter lido no Facebook o poema de Augusto Branco "Vida - Já perdoei erros quase imperdoáveis".

"Mas afinal o que foi essa famosa revelação que tiveste hoje?", pergunta-me o meu Eu profundo, como se nada soubesse ou só a querer meter conversa, para compreender o que o meu Eu de carne e osso - por facilitismo de linguagem, chamemos-lhe "superficial" - tinha então assimilado.

"Eu nunca fui capaz de amar verdadeiramente ninguém até hoje na minha vida", retorqui-lhe Eu, dito o "superficial".

Eu profundo: E isso fica a dever-se a quê, no teu hoje adquirido novo entender?

Eu "superficial": À minha imensa sede de liberdade, que me impediu sempre de me entregar completamente ao Amor daquela que comigo resolvia dividir os seus dias e carinhos. Desde a mãe da minha filha até à derradeira mulher que comigo penou durante nove anos, que se escoaram tão lestos.

Eu p.: Pois...

Eu "s.": Mas de qualquer forma, eu dei-me também ao Amor. Não totalmente mas dei-me. O meu abraço nunca foi frio. O meu peito e ombro estavam sempre disponíveis, se com urgência eram requeridos. O meu beijo era sempre sentido. Ainda que eu beijar não saiba, segundo o que me fizeram ver um dia, não beijei à toa. Não beijei só por gostar de beijar. Beijei porque amava naquele momento.

Eu p.: E porque estás a proclamar isso agora?

Eu "s.": Bem... não sei. Talvez esteja só a dizê-lo para me confortar a mim próprio.

Eu p.: Ah!... E agora, á luz dessa tua descoberta, o que contas fazer doravante?

Eu "s.": Deixar-me enredar total e incondicionalmente pelo Amor. Não mais desejar ser livre. Dar-me todo. Casar num templo sagrado, com todo o ritual seguido a rigor e a contento da sociedade. Ter de novo um filho e desta feita vê-lo crescer todos os dias. Construir finalmente um lar a sério. Que contenha dentro dele todos os abraços do mundo.

Eu p.: E como é que fica aquela história da tua doutrina de vida, o Pietrinismo?

Eu "s.": Eh pá, isso era um Eu que já não existe hoje. Era aquele insano que eu até ontem era, sequioso da sua querida e inglória liberdade, a bradar aos ventos sem fazer qualquer sentido. Eu hoje mudei.

Eu p.: Só que agora é tarde para essa sábia resolução tua. Dormiste na forma... e acordaste um dia com 50 anos e sózinho. Desdenhaste do destino que os deuses te tinham delineado. E aquela que Estes tinham planeado para ti foi-se...

Eu "s.": Bem o sei, não careces de avivar-me a memória! Choro ainda a sua partida devida à minha cegueira, quiçá para todo o sempre. Mas se o milagre do seu retorno ou da chegada de outra que eu mereça acontecer, saberei como fazer melhor que no passado.

Eu p.: A ver vamos, se essa fortuna tiveres, se cumprirás com o que hoje estás a jurar.

Eu "s.": Vai-te catar, meu c...ão de m...da! Também tu a jogar-me ainda mais para baixo? Já não basta o mundo inteiro? Até os do meu próprio sangue não compreendem a minha dor e perceber como me sinto escapa ao seu entendimento. Para que me estás a mandar essa boca? Onde estavas tu, quando de uma consciência eu necessitei?

Eu p.: Eu? Mas então o menino não queria ser livre como um pássaro e pousar em todos os ninhos? Foste tu que tomaste por modelo esse libertino do Elmano Sadino.... Muitos como tu olvidam no entanto é que ele escreveu também isto: "Meu ser evaporei na lida insana / Do tropel de paixões, que me arrastava". Agora pagas a factura. A tua tão anseada liberdade custou-te aquela felicidade que por ilusão já achavas assegurada até ao fim dos teus dias.

Eu "s.": Pois... mas eu digo-te que agora vou ser recto. É já tarde para o decidir e talvez até vão, porque posso tornar-me um eremita sem remissão. Mas...

Eu p.: Esse é o teu mais provável fado, meu velho... pois com a dor da recente perda, tu estás a ficar louco.

Eu "s.": Louco estarei por vezes, admito-o. Mas hás-de concordar que após esse estados de alma transitórios, uma lucidez de qualidade ímpar também me vem.

Eu p.: Hummm....

Eu "s.": Lembra-te lá: nós dois assistimos a um filme há uns tempos em que um guru desdentado dizia que, às vezes, é preciso perder o equilíbrio por instantes para depois voltar a ganhá-lo de forma permanente.

Eu p.: Com essa agora, surpreendeste-me...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

• Passion, sweet passion...

...you are my home.

Ando em demanda de quem por mim se apaixone. . Digo-o assim, porque eu não sei se eu quero ou sequer posso, em reciprocidade, me apaixonar por alguém.

Mas todavia anseio que alguém se perca de paixões por mim. Mais uma vez, venho incomodar os deuses com o pedido desta graça. Porque eu creio merecê-la! Porque há quem me veja ainda como um homem bom e um ser lindo. Isto dito até por quem se demitiu de me dar o seu amor... e com quem eu me comportei amiúde como um monstro.

O caminho que os deuses me mostram para tomar nestes dias de cinzenta e basta humidade é o que me vai tornar num eremita. Mas eu não vou fazer essa escolha! Sou bom demais para ser um eremita! Sou novo demais para quedar-me só. Sou grande demais no Amor para não ser nunca mais benefício para quem neste mundo de amor careça. E se há por aí tanta alma que o pede, e com fervor...

Eu quero simplesmente colo. Mimo. Carinhos. Abraços. Calor humano. Não é outro alguém em si que eu desejo.

Tenho em stock a mesma mercadoria sentimental para trocar com quer quiser fazer negócio comigo. E estou vendedor e comprador ao mesmo tempo desses bens.

Mas talvez seja meu dever previamente informar de algumas advertências a quem venha a ter a desdita de amar este Scorpio, pelo que ele tem de intrinsecamente sublime do seu signo astral. E que é:
  • Não me peçam, quando cansadas ou nem tanto, para vos descalçar e despir, para em seguida vos ajudar a enfiar o vosso pijaminha sexy. Sobretudo se este até nem for tão sexy como isso... e até esteja um pouco esgaçado, caras donzelas.
  • Não me peçam para vos fazer uma massagem nos vossos dorsos doridos mas esbeltos ou nos vossos cansados mas belos pézinhos.
  • Não me peçam para pousar as vossas cabecitas douradas ou negras no meu peito lusitano, afim de darem largas a algum pranto incontido que este mundo vos tenha causado.
  • Não me peçam para nesse desiderato as abraçar, afim de receberem o calor do vulcão que em mim está adormecido mas sempre lesto a tornar-se activo.
  • Não me peçam para cozinhar aquela pasta al suco di pesto a la genovese ou o spaghetti a la putanesca para saciar o vosso transitório apetite gourmet.
  • Não me peçam para ser vossa companhia e cúmplice em missões mais espinhosas ou dolorosas mas urgentes e que a vida vos impõe como necessárias. Ou inclusivé nas vossas actividades de puro lazer.
  • Não me desassosseguem sussurando com as vossas doces vozitas um "vem cá ver uma coisa", dos confins da caliente alcova onde se encontrem, dando repouso à vossa alma languidamente.
  • Não me façam festas no rosto e nos cabelos quando me virem entristecido. Deixem que me feche na minha concha quando estiver mais in the blues. Não lutem por mim.
  • Não corram para os meus braços ao me verem assomar ao vosso encontro por la calle, em encontros previamente anunciados.
  • Não me dêem a vossa aveludada pele toda aos meus ávidos lábios de vos oscular e às mãos minhas sequiosas de vos afagar.
  • Não me tratem pelo diminuitivo do meu primeiro nome próprio verdadeiro. Ou ainda, não customizem ainda mais esse diminuitivo roubando-lhe sílabas, como se de prefixos inócuos se tratassem.
  • Não riam a bandeiras despregadas dos meus toques de telemóvel inusitados.
  • Nunca queiram ser a parte primeira a desejar acender o cachimbo da paz, após os costumeiros arrufos que certamente também teremos.
  • E por fim, não se dediquem de corpo e alma completamente a mim.
Isto porque... se o fizerem... tal poderá ter um sabor agridoce para mim. Far-me-á, à vez, bem e mal. Provocar-me-á alegrias exteriores e interiores prantos. Se é que me faço entender...

Eu quero e não quero o que enumerei. Quero porque necessito de amar e ser amado. Não quero porque não imagino mulher alguma neste mundo que possa ser como aquela oferenda dos deuses que eu menosprezei e me demiti de lutar pelo seu amor quando era mister fazê-lo e com urgência.

E há ainda uma razão de fundo para não fazerem nada do que foi referido atrás. Uma razão talvez canalha. Porque eu assim sou-o. Porque o Amor assim o é também, bastas vezes...

É que... se o não fizerem nunca... eu... em desespero de causa... sou capaz de pagar-vos para que o façam mesmo!!!...

domingo, 9 de janeiro de 2011

• Amore ed Ingiustizia

Deambulo neste domingo triste de Janeiro e os erráticos passos meus dirigem-me autisticamente até ao Campus de Justiça, na zona da Expo, nesta minha outrora designada Ulisseia. Que me tem sido aziaga. É já tempo de zarpar para outro lugar, julgo eu...

Miro este bloco de edfícios que a imagem acima ilustra e cogito: um belo exemplo de algo desenhado com paixão e um lápis, destinado a encerrar nele temporariamente vidas em horários ditos laborais, onde o Amor não medra.

E porque havia o Amor de existir num Campus de Justiça? Se o Amor é em sua essência injusto?

Sim, mantenho, o Amor é injusto. Porque Este nos invade o corpo e a alma, avassalando-nos quando menos o esperamos. E não temos então a sua urgente necessidade. E larga-nos depois com a dependência dele, quando não o antecipamos cautelosamente.

E porque haveria o Amor de ser justo? Quando nós* somos tremendamente injustos com Este.

Desprezamo-lo quando o Amor se dá a nós em toda a sua generosidade. Outras vezes também o desvalorizamos e queremos mais ainda, quando o que já recebemos d'Este nem o merecíamos ainda.

O Amor, o Amor... sempre o Amor! Porque não consigo pensar noutra coisa senão no maldito Amor hoje? Esta adicção da minha alma nem me faz recordar de que necessito também de alimentar o corpo meu.

E passo ao lado daquilo que acontece nos dias que correm sem entusiasmo algum. A campanha eleitoral actual, em que me propus engajar-me com ânimo e determinação, para que este Portugal tivesse um real Presidente da República... Que, se não fosse eu a sê-lo, que já fui nos confins dos tempos um Rei, o mais lendário destes até, ao menos que fosse um "nobre" a morar em Bélem. Com vista para a Casa Pia...

 
* Quando digo "nós", falo por mim. Com esta minha mania de palrar como Louis XIV de França, "le Roi Soleil"...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

• Black Friday

Black Friday...

O crash da Bolsa de Valores de New York no longínquo 24 de Setembro de 1869. Os saldos no dia seguinte ao Natal em Inglaterra e outros países da Commonwealth, e agora, graças ao El Corte Inglés, também cá no burgo. Tudo a ver com a desastrosa no capítulo do Amor desta estação Outono-Inverno última, que ainda está a decorrer e que nunca mais parece acabar os seus dias aziagos.

Ia o Outono, que até era uma das minhas estações do ano preferidas, já com mais de 4 luas quando me separei da minha Primeira-Dama. A pré-campanha presidencial ficando desde logo relegada para a pasta dos assuntos menos importantes da vida. E a minha atenção desperta para outros que sofrem a mesmíssima desgraça. Ao mesmo tempo que eu.

Esta estação está a ser devastadora das relações amorosas. Desde anónimos completos até figuras públicas VIP. Democraticamente dividindo o mal pelas aldeias todas. Uma vaga de divórcios a que eu nunca estive tão atento senão quando o mal me bateu á porta também.

O Amor como um Valor universal enfrenta hoje o seu crash. As consequèncias? Milhares de almas boas e agora imensamente carentes em saldo por aí espalhadas.

Apenas dois exemplos: atentem neste post. E neste outro também. Onde palavras jazem lançadas ao vento, que podiam muito bem ser as minhas próprias também. Eu também estou em saldo.

No El Corte Inglés, podiamos esperar comprar artigos que a loja consideraria como monos - embora nunca o pudesse afirmar abertamente, como é evidente - a um quarto do seu valor anterior nesta última Black Friday de 26 de Dezembro.

No campo do Amor podemos esperar encontrar nos seus "saldos" almas riquíssimas agora solitárias a um preço elevadíssimo. O preço de nos apaixonarmos perdidamente por estas.

Estas almas semi-vivas vagueantes na Terra são autênticas caixas de Pandora. Magnificamente recheadas de tesouros tais como afectos e carinhos mil, acumulados sob a pressão de um dia serem libertados in your face, na face daqueles raros venturosos que se atreverem a experimentar rodar a chave do cadeado desses baús. Algo incomensurávelmente belo vai explodir-lhes na cara desses destemidos.

Eu encontro-me em saldo, a minha sede de dar-me em afectos guardada numa dessas caixas de Pandora também, neste armazém de ideias que este blog é.

Declaro a toda a humanidade aberta a minha personal Black Friday.

Por caridade, não me deixem ganhar muito pó...