quinta-feira, 21 de julho de 2011

• Mutluluk *

Sempre existirão mágoas nas nossas vidas. Mas ao mesmo tempo bençãos também.

Sempre haverá dor. Mas a alegria também pode surgir. E precisamos sempre não nos deixar cegar pelas dores a ponto destas não nos permitirem experimentar alegrias. Inda que pequenas nos possam parecer estas últimas ao lado das primeiras.

A receita para atingir a perfeição na busca da felicidade é então... reduzir até chegar a ignorar totalmente aquilo que nos fere a alma e ampliar até ao infinito aquilo que a conforta.

Simples. Mas é preciso coragem e inteligência.

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* Felicidade, em turco.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

• 18 anos depois...

Foi há dois dias, no último sábado, de tarde solarenga em toda a Lusitânia.

Eu não devia, não era suposto eu ali estar. Mas estava. Era preferível, era bem melhor que ali não tivesses ido parar. Mas também lá estavas.

Nós não vivemos juntos faz mais de 3 lustres. E durante esse tempo decorrido, mal nos vimos ou sequer falámos amiúde. Que é como quem diz, quase nada mesmo.

E no entanto, aqui estamos os dois. Num diálogo que durou uns breves minutos. Estou triste por teres de ficar aqui logo hoje. Mas feliz por ter conseguido te ver. E tu ficaste surpresa pela minha presença mas esta parece-me não te ter desagradado. Até pelo contrário, julgo. Porque sorriste, apesar de também te quedares bem triste. E com dores.

Estamos neste hospital. Não era para ter acontecido o nosso diálogo. Tu devias estar com a nossa filha na alegria do lar onde as duas vivem. Numa festa. E eu vim cá ter por causa dela não poder juntar-se a ti e não saber do teu estado.

Ela, o nosso grande legado, que aportámos a este mundo dos humanos, questionou-me mais tarde se eu cheguei a ver-te. 

Contestei-lhe que te dei um beijinho. Não só um mas vários. O respeito que tenho à grande mãe que tu és metamorfizou-se em menos de um ápice numa incontida ternura. E, claro, osculei o teu rosto, com a visão do qual pasmava de indisfarçada admiração, de a nossa filhota ter hoje a tua cara chapada, meus deuses....

Deuses esses que se divertiram a congeminar as circunstãncias que concorrerarm para que nos encontrássemos sós, um com o outro, às 18 horas. À mesma hora de novo, como há 18 anos atrás. Na mesma posição relativa. Tal como então, eu de pé, ao teu lado, que estás deitada numa maca.

Naquele dia do passado distante - que a ilusão me faz crer todavia que foi ontem - foram as dores de parto que te assaltavam o corpo de mulher guerreira. 

"Ela tem muito cabelo!" - gritei eu então, assim que ela assomou fora de ti, que não podias vê-la, porque reclinaste a tua cabeça para trás, vencida que estavas e fatalmente te rendeste ao esforço que a mãe-natureza te havia pedido naquele instante maravilhoso.

Como foi possível, que sem o planearmos, voltássemos a estar nós dois como naquele dia glorioso da nossa estreia na paternidade? Logo hoje, quando a nossa menina alcança a maioridade?

Sou um grandessíssimo ingrato. Quantas vezes não praguejei contra vós, meus deuses, maldizendo as chagas da minha existência. Quando vós me ofertais por vezes momentos tão sublimes como este...

Missão cumprida, "Chiinda". Nós pusémos nesta terra e lográmos criar um ser lindo e sagaz como a mais inteligente das raposinhas. Eu creio que a preparámos bem para sulcar os trilhos desta vida.