sábado, 22 de setembro de 2012

• As pessoas

Meio desta passada semana, pausa do meio-dia, na praça central do Colombo*, nesta capital de um pequeno país chamado Portugal, no centro do meu mundinho. Estou comodamente numa rica poltrona a descontrair-me com um dos meus hobbies favoritos: a observação da natureza humana.

É para mim uma ciência assim a modos como a ornitologia. Mas no caso presente a passarada são animais ditos racionais.

Desfila perante os meus olhos tanto bicho careta!… O cinquentão, meu semelhante, que leva uma vida de artista; um casal de jovens, que foram comprar a máquina de café Nespresso da moda; meninos engravatadinhos, funcionários de corretora financeira que circulam em bando,meio imberbes e com cortes de cabelo que denunciam que ao sábado mudam para uma indumentária totalmente diferente; pitinhas de calções curtinhos e havaianas, mais adequadas a deambular em qualquer calçadão à beira-mar estariam do que aqui; mulheres estilo executivas, exemplares nos seus tailleurs azuis vivos e pumps cor púrpura, com saltos generosos…

Detenho por uns breves momentos mais a minha atenção focada numa mulher que se encaixa nesta última categoria. É sem dúvida uma dama deveras elegante. Fala ao telefone móvel com o seu consorte. Ou o seu superior hierárquico, que não a deixa gozar tranquilamente o seu lunch break. Filho da mãe!...

É então quando me desce esta constatação: todos nós somos caixinhas de bombons

Alguns de nós, privilegiados pela gerência da chocolateria da mãe-natureza, vêm com umas fotos lindíssimas a servir de tampa dessas caixas. Como aquela que é tão típica, aqui ao lado mostrada. Ilustrando essa paisagem lendária do castelo de Neuschwanstein, na encantadora Baviera alemã. Outros bombons são embalados mais modestamente. Mas todos temos algo de belo.

Nem que seja no interior da caixa… que é onde reside o que mais importa. Que é o chocolate em si. A essência da coisa. Não é o invólucro mais externo. Nem a folhinha de prata que envolve o bombom. Isso são apenas camadas protectoras e decorativas do verdadeiro tesouro.

Por vezes, quando vamos até ao fundo, o sabor do chocolate para cada um de nós, particularmente, afinal não corresponde às expectativas que a esbelta envoltura nos suscitou… e o mais certo é sermos desapontados, nem que seja ligeiramente.

Fui viciado numa marca de chocolates até há tempos atrás. Durante longos anos foram os meus favoritos. Mas um dia provocaram-me uma valente azia. Daquelas que nos fazem um ardor no peito bem chato. E foi então que descobri que tinham mudado a receita original. Dum dia para o outro. Radicalmente. E depois deixaram de se fabricar de todo.

O meu vício, esse bem me custou a passar... Não era nada fácil. Por aí andei a esgravatar, à direita e à esquerda, quem fizesse algo de semelhante à minha predilecção com pepitas de cacau. Comecei a crer que seria debalde essa tarefa para sempre.

Um belo dia, julguei perceber um "Ó freguês, não vai nada aqui da loja?" dito quase em surdina. Volto para trás e vejo um pequenito bombom em cima do balcão. Tomo-o. E à primeira dentadinha, fico extasiado. "É este!", gritei para dentro, com um sorriso de orelha a orelha.

Era de um chocolate puro. Simples, desprovido de dispensáveis grandes sofisticações. Genuino. Era a minha cara. Uma perfeita delícia!

Que me levou a olhar para os outros bombons - que são as pessoas, não nos percamos - sob toda uma nova perspectiva. Esta mesmo que aqui e agora exponho.

Eu também sou um bombom, claro. Sou como as outras pessoas. E desde este feliz episódio, a sorte do destino permitiu-me lograr alcançar de novo o desiderato maior que qualquer bombom que se preze ambiciona: ser desejado.
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* Para quem poderá não saber do que estou a falar, clicar aqui.

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