Ainda tão-só no post publicado no mês passado acreditava que andava com muita sorte… E agora já me apetece fazer uma resenha de alguns azares que me acometeram nestes últimos tempos.
Em Outubro passado, começo a sofrer dum quisto dermóide. Que me impede de continuar a conduzir. Sinto todos os buracos da estrada na coluna vertebral. Felizmente a perturbação lá desapareceu, tal como veio. Lentamente mas evitando ter sido necessária uma intervenção cirúrgica.
No princípio da época natalícia, caí numa escadaria e abri o pulso da mão direita. Padeci semanas a fio sem poder usar essa mão e esse braço. Cuidei que nunca mais iria voltar a ter a sua funcionalidade. Hoje lá a tenho. Mas não sei se poderei usar a força de braço da mesma forma como dantes. Talvez não. Mas pelo menos voltei a conseguir conduzir veículos com mudanças manuais. Menos mal.
Em Fevereiro descubro num rastreio que devo ser diabético. Daí compreender então a sensação de cansaço que me invadiu no verão do ano passado.
Por alturas do Festival da Eurovisão em Lisboa, ou seja, de meados de Abril a meados de Maio, veio-me uma crise de pernas cansadas e dores nos joelhos. Que entretanto amainou, quiçá com a ajuda de crioterapia, mas que sinto que pode a todo o instante ressurgir.
E agora bem recentemente, na quinta-feira da passada semana eis que de súbito acordo e vejo no espelho que tenho a boca torta. E a voz entaramelada. E solto lágrimas de crocodilo do olho direito. O lado da face que passou de repente - e sem que eu me pudesse aperceber disto vir no meu caminho - a sofrer duma paralisia facial idiopática, ou paralisia de Bell. Moléstia que médicos me afiguram que levará semanas até se debelar…
E neste derradeiro azarinho que desceu em mim ainda poderei crer ter tido algum golpe de sorte!… Pois a coisa podia ter sido bem pior. Como um princípio de AVC. Aliás, quando me dirigi às urgências do hospital mais próximo, ainda no serão dessa quinta-feira, a triagem feita achou por bem espetar-me logo, logo numa cadeira de rodas, não fosse dar-me um fanico nas horas seguintes.
Este incidente, no entanto, deixou-me com a cultura geral uma beka mais enriquecida. Com este novo termo para mim, idiopática… Que assaz me intriga.
Idiopático… Palavrão a tresandar que tem a mesma raiz que idiota… O Wiktionary.org elucida-nos que:
Do latim idiota (la), originado do grego antigo ἴδιώτης (idhiótis), "um cidadão privado, individual", derivado de ἴδιος (ídhios), "privado". Usado depreciativamente na antiga Atenas para se referir a quem se apartasse da vida pública.
Idiota eu serei, porque de facto me aparto da vida pública e cada vez mais me comporto como lobo solitário. Me comporto e me conforto nesse modo de vida.
Já na Wikipedia.org, voltando à vaca fria…
Idiopático: adjetivo usado primeiramente na medicina significando surgido espontaneamente ou de causa obscura ou desconhecida. Derivado do grego ἴδιος, idios (de si próprio) + πάθος, pathos (sofrimento).
Mas o que é isto “de causa obscura ou desconhecida”???… Então a tão desenvolvida medicina ocidental ainda tem estas pequenas lacunas do conhecimento?…
Tenho para mim - idiota que sofro de doença idiopática, que deliciosa coerência… - que a tal “causa obscura ou desconhecida” deve ser alguém - ou talvez mais do que uma pessoa… - ter uma boneca voodoo cá do rapaz!…
Toda esta sucessão de incidentes menos bons tem levado a que eu me tenha retraído na perseguição de um sonho. O de sair do meu país natal, que entretanto se me tornou tão aziago.
Tenho de dar esse decisivo passo que tanto tenho adiado.
Queria muito voltar a lugares onde já fui muito feliz. A reunir-me, nem que seja uma última vez por breves instantes, com aquela sobre a qual cresceu-me a convicção de que nasci para ela.
Mas desconfio que embora questa donna è molto mobile, a sua derradeira e definitiva vontade é de que essa reunião das nossas almas e corpos não se produza mais nesta presente existência nossa.
Tal não me impede de lhe desejar toda a felicidade deste mundo, com esta sua bem clara escolha.
Mas eu também quero e acho que mereço ser feliz. E hei-de sê-lo. Ou até já o sou, e não tenho podido sempre dar-me conta. Apesar desta sequência de azares.
Dizem que depois da tempestade vem a bonança. Mas se calhar não vou esperar mais o fim da borrasca para começar uma vida nova.