terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

• Amor e cobardia


Confesso. Já fui cobarde* muitas vezes.

Admito mesmo mais: sempre fui cobarde. Amor e cobardia são a mesma coisa, como já li numa citação que alguém produziu antes de mim.

No julgamento que todos os deuses e alguns humanos - aqueles poucos que me prestam atenção - me fizerem, farei este acto de contrição e esperarei que este me sirva ao menos de circunstância atenuante. É que nem todos os homens terão consciência da sua cobardia e farão o mesmo que eu.

O Amor é como um carneirinho, de lã farta, alva e fofinha, pastando pachorrentamente num verde prado primaveril. Metáfora linda à primeira vista. Mas se aproximarmos a nossa visão, atrás das suas orelhitas detectaremos carraças mil!...

O Amor é algo bonito em si, mas que arrasta consigo um ror de feios paasitas. O primeiro sendo, talvez, o ódio, que domina o seu portador, o Amor, em três tempos, tantas vezes... É aquela história da ténue fronteira.

Mas há outros parasitas mais. O egoismo, a canalhice, a traição, a cobardia... Oh, como já fui cobarde a jogar o jogo da sedução... egoísta, canalha, traidor e cobarde... e como também já sofri com a cobardia alheia. De quem fingiu me amar até ao fim, já não o fazendo de verdade... e nem sequer era uma cobardia de índole intencionalmente maligna. Apenas uma cobardia estúpida.

E tende muito cuidado, gentes, que a estupidez humana é infinita, segundo Einstein, e pode ser-vos letal!... No nosso amor próprio, fere-nos mais o próximo que connosco é estúpido do que aquele que é tão-só maquiavélico.

Mas eu tudo compreendo e aceito, resignado. A punição divina que me deram, é aquela que eu mereço. E não posso querer mal a quem me feriu. Porque é inimputável. Porque nós não mandamos no nosso coração. Este é apenas um instrumento nas mãos de entidades sobre-humanas que regem o fado de cada um de nós, mortais.

Sabeis, a cobardia tem um preço. Aquele que eu sempre paguei foi o de ficar cativado sem remissão, no fim, sempre já demasiado tarde, por quem a princípio seduzia e nem tinha a convicção plena - mas, e depois também, como a poderemos ter tão cedo?... - de querer amar incondicionalmente.

E como é alto esse preço, asseguro-vos...

Aposto que Bob Marley proferiu esta máxima que lhe atribuem numa conjuntura particular dele... a de uma valente dor de corno! Provocada por um canalha que lhe andaria a tentar catrapiscar a sua companheira - que ele, Bob, deixaria andar livre para voar e ser ela mesma, sem quaisquer amarras - pelo simples gozo do jogo da sedução. Essa actividade desportiva tão canalha e tão intrínseca dos homens...

Vou terminar de vergastar o Amor, por hoje, apontando o dedo também ao sexo oposto. Que ninguém está inocente no Amor. Todos, de ambos os lados da barreira, têm a sua dose de cobardia.

Reflectindo sobre o pensamento marleyano, invento agora eu esta verdade:

"A maior cobardia de uma mulher é não contar quando o seu amor acabou, deixando o homem viver na ilusão das juras de amor eterno antes dadas por ela.", Giuseppe Pietrini
Não mais quero ser um cobarde. Mas não queria deixar de amar...

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* Tradução da citação em inglês na imagem acima: "A maior cobardia de um homem é despertar o amor de uma mulher sem ter a intenção de a amar.", Bob Marley
Nota: em ambas as citações, a minha e a de Marley, os papéis dos dois sexos podem perfeitamente ser intercambiados entre si, que o valor da verdade das expressões produzidas não sofre qualquer alteração de estado.

3 comentários:

Edite disse...

GIUSEPPE!
Li bastante no seu blogg, não tudo ainda, e gostei do que li...da intensidade contida nas palavras nada vazias!...no entanto essa melancolia referente a citação da covardia nos jogos de sedução,é um pouco incoerente. Eu penso que no ato da sedução ambos desfrutam de um prazer singular que nossa condição humana nos permite. Seria doentio praticar essa sedução sem sentir qualquer prazer, e ela somente pode existir se houver reciprocidade!...apartir disso sim, concordo que ocultar a falta de amor, ou representá-lo inconsequentemente, sem senti-lo, então é covardia!
Adorei sua sensibilidade!
Grande beijo!

emenegat@hotmail.com

edite disse...

Add vc no msn..aguardo aceitação!
Abraços...muitos!!!!

Giuseppe Pietrini disse...

Cara Edite Menegat,

Meu anjo lindo, ler o que você escreveu me dá força para continuar. Não só para continuar escrevendo. Também para continuar vivendo. Porque assim sei que não estou só nesse mundo dos deuses. Porque assim sei que vale a pena continuar aqui. Porque não sou só eu que pareço ser demasiado sensível à dor e à beleza desta terra dos humanos.

Baci tanti per te, guria!
Giuseppe