E és narcisista porque és mulher. Assim julgas que quem mais te bajula é quem mais te ama. Mas não é quem alimenta o teu faminto ego com banquetes quem mais gosta de ti. Não é mesmo. É antes quem cuida de ti no dia a dia.
Eu fui quem conseguiu sobressair em ti o melhor ser humano que tu podias ser alguma vez. Não foi fulano, nem sicrano e nem beltrano. Fui eu. Eu é que detenho essa glória. E sem ser ainda o melhor homem que agora sou. Que só hoje, apartado de ti, alcanço essa qualidade maior em mim.
Tu sabes bem que fui eu. A tua consciência to dita, em surdina. Tu foste comigo mais pura. E grande foste em amar-me. E me ensinaste a amar, como grã-mestra que eras.
Com outro foste o pior do teu sempre. Foste canalha. E até um dia confessaste sentir essa culpa. Em boa hora lograste quebrar as amarras. Parecias viciada, caramba! Mas ainda choras, tonta!…
Com ainda outro és mais terra-a-terra. Não tens aquele golpe de asa. Não levantas tanto os pés do chão. Mas acreditas estar feliz. Porque tanto te basta que massajem a tua vaidadezinha. Estás a recuperar fôlego, numa zona de conforto. Fazes bem...
Se acaso tornares a ser o melhor que já foste, voltarei a amar-te. Ou amar-te-ei então com desenfreada devoção. Como devia ter sido. Incondicionalmente. Não terás as minhas palavras a gabar-te, como os demais, talvez. Mas isso fá-lo-ão os meus olhos, quando te mirarem. Se não estivesses cega, talvez já o notasses hoje.
Sim, eu sei. Tinhas que ripostar! Não serias tu mesma se não o fizesses. Sim, admito. Eu também sou narcisista. Mas não careço tanto como tu da bajulação de outrém. Sou o pior dos narcisos. Pavoneio-me sozinho.
Eu não te mereci no passado. Hoje quiçá és tu que não me mereces. Como até já uma vez mo atiraste à cara e eu fiz que não percebi. Aliás, acho que às tantas quase ninguém me merecerá actualmente. Toda a gente me parece tão terra-a-terra! Ou então sou eu que subi a minha torre de marfim. E enlouqueci lá no cimo.
Estou a entrar numa queda vertiginosa em parafuso, mesmo…
Isto é patético. Eu sei-o bem. Sentirias pena de mim, se lesses esta confissão. Mas não quero a tua pena. Quero o impossível. Queria aquilo que perdeste, se alguma vez o tiveste, sequer. O teu orgulho em mim, por eu ter sido o homem que conquistaste e amaste um dia. Ou disseste ter amado.
Gritar-te que te quero ainda provoca em ti dor. Ou desconforto. Ou algo ainda pior, que não me atrevo a dizer. Então, para o teu bem, passarei a não te querer mais. Não és mais a mesma que me cativou, de qualquer modo. Continuas tão-só é a ser narcisista. E para sempre deixarás os braços de quem te protege e te quer bem, trocando-os pelos dos que te cantam odes poéticas vãs.
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