domingo, 29 de dezembro de 2013

• Faz sentido manter um blog?…

Eis a questão que me assalta tanta vez!… E lendo esta citação do sr. Joss Whedon*, encontro algumas das principais razões para persistir ocupando parte do meu tempo a escrever como blogger.

Poucas pessoas me lêem. Talvez até cada vez menos. Mas são poucas mas boas. De excelência. E vão-me aparecendo sempre novos leitores, quase diariamente. Das mais variadas partes deste mundo. Graças aos deuses.

Comentários ao que publico são em menor número ainda do que os leitores… E se estes existissem mais, isso é que poderia funcionar como um bom incentivo para continuar a escrever… 

Mas depois, se tivesse a avalanche de comentários dos blogs de moda, como o da Pipoca Mais Doce ou os do portal Clix, não me restaria muito tempo para novos posts, não é?…

No fundo, escrever é-me necessário como uma terapia. Era bom talvez ter mais motivações. Mas esta já é essencial.

É mesmo como diz o bom do Joss… Escrevo para encontrar as forças que residirão ainda dentro de mim. Para representar um papel do que eu não sou. Mas que secretamente aspiraria a ser. Para espantar os meus receios e angústias, reflectindo sobre estes.

E também para alimentar um caderno de apontamentos. Para que o pequeno Steve Jobs que todos teremos em nós deixar as minhas ideias na forma escrita. Para não as perder. No meu primeiro blog, Ideias Peregrinas (ou talvez não).

Para soltar os meus gritos contra os diferentes status quos vigentes na nossa sociedade contemporânea. De uma forma a roçar sempre uma alegada veia humorística que presumo deter. No meu segundo blog, Cidadania Rasca.

Finalmente, também para manter um foco meu sobre o amor e as relações sentimentais interpessoais. É que l’important c’est la rose, como canta Gilbert Bécaud… Neste meu terceiro blog, onde comecei por querer representar um personagem à la Coluche. E que, como amiúde digo, se tornou num catalisador da árdua tarefa a que me propus abraçar: a procura da minha alma gémea, após o fim da minha última união com outro ser humano.

Escrevo quase só for myself, é certo. Conquistei até hoje poucos leitores fiéis, também. 

Mas já tive o prazer de receber algumas taças. Quando alguém que me descobre através da escrita me diz que ao ler-me lhe terei despertado emoções raras. Isso vale ouro para mim.

E quiçá, já terei descoberto a tal alma gémea. Ou algumas almas que me dão muito boas dicas de como eu amaria que esse mito fosse.  :-)


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* Joss Whedon é um guionista, produtor e realizador de televisão e cinema norte-americano. Entre outras muitas coisas, foi o co-autor do argumento dos filmes da série Toy Story. 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

• Eu, hoje


Eu em toda esta minha actual vida até aqui vivida procurei sempre fugir da solidão. Mas, com a minha curta ou ingrata memória, creio que nunca me senti verdadeiramente acompanhado. E também nunca fui o melhor companheiro que poderia ser para quem quer que comigo se tenha cruzado…

Não há amor como o primeiro, dizem… Pois esse foi coisa que me proporcionou um só dia de felicidade, há muito tempo atrás. E talvez tenha condicionado toda a minha futura vida amorosa desde que esse dia aconteceu.

Tinha eu 13 aninhos. Era um domingo de primavera á tarde. Em minha casa os convidados para o almoço do costume todo o santo dia do Senhor estavam a conviver à roda da mesa farta que a senhora minha mãe gostava de compor com travessas mil. O repasto havia findado e os adultos pareciam refastelados. Mas como é mister dizer-se, os portugueses gostam de envelhecer à mesa. E ali se quedavam todos na palheta.

Eu senti uma súbita vontade de me evadir daquele ambiente. Como se fosse doutro planeta. E fui prostrar-me ao sol, encavalitado no topo dum muro, a apenas umas dezenas de metros do meu lar, doce lar.

Ali fiquei meditando com a minha consciência, sob o tema habitual em mim: “Is this all there is?…”. A vida será apenas isto?…

E assim estava quietinho, havia prái uma meia hora, quando sou surpreendido por um anjo que resolve se juntar a mim em cima do muro.

Que tinha estado a observar-me. Que quis vir ter comigo. Que queria saber o que eu fazia ali sozinho.

E eu comecei a desenrolar o meu novelo para ela. Que tinha escapulido um pouco da minha realidade para vir para ali estar a sós com o meu pensamento. Mas já que ela tinha querido provar da valia da minha companhia, já não queria estar mais isolado do resto do mundo.

Nunca entendi a sua curiosidade sobre mim, um simples rapazito. E porque estava a ser gentil comigo. Mas gentileza gera gentileza. E eu senti o impulso quase imediato de trocar com ela o meu interior.

Dialogámos durante a tarde inteira, tendo saído daquele muro e vagueando sem rumo pelas ruas do meu bairro. Fomos interpelados por um senhor que me conhecia. Que vendo o clima de entrosamento perguntou se ela era a minha namorada.

Foi só aí que me toquei. Não, ela não era. Eu nem sabia o nome dela. E nem nunca o soube. Não a questionei. Só falei sobre mim. E o interesse dela sobre mim induziu o meu interesse crescente nela. 

Se eu estivesse á procura de uma namorada, eu não quereria nada diferente do que ela estava sendo comigo.

Ela se quis despedir de mim - de nós - quando se deu conta das horas terem passado velozes. Que a sua família devia já estar preocupada com a sua ausência. E nem um beijinho demos.

Supus aquela tardinha um convívio de duas almas semelhantes tão prazeiroso que havíamos de o desejar repetir ambos. E esperei por ela em domingos que se seguiram em cima daquele bendito muro. Mas ela não veio. Nunca mais.

Nestes últimos dias tenho reflectido sobre este anjo. O que será dela hoje em dia? Foi ela real? Ou foi só uma alucinação? Mas se outros a viram comigo… Terá talvez reincarnado em alguém que eu tenha conhecido nos últimos tempos e que também goste de mim?… 

Irão alguma vez estas palavras que aqui vão ficar gravadas chegar até ela ou a sua alma?…

O facto é que ela fez com que no amor eu quase nunca me tenha apetecido empreender o esforço de seduzir. Acreditei que teria apenas de ser eu e deixar que a minha aura fizesse esse trabalho por mim. E depois, era só deixar-me seduzir por quem a minha atenção prendesse com mais entusiasmo.

Não aprendi assim a ser um sedutor. Não sei seduzir. Vaidosamente fui crendo que eu devia mesmo ser a oitava maravilha do mundo.

Até que o pano caiu quando soube o que é ser rejeitado por aquela que eu acreditei seria minha até ao fim dos meus dias. Quando esta tirou a máscara que usou durante nove anos.

Hoje parei de julgar que entre mim e o amor poderá alguma vez mais haver o que quer que seja. E digo mais! Não é por falta de manifestações de carinho, que o recebo todos os santos dias...

Já me resignei a encarar a grande probabilidade de terminar esta vida actual sozinho. E não há grande mal nisso, julgo eu.

domingo, 15 de dezembro de 2013

• Ragione e emozione

"Se il tuo cuore mi può amare tanto quanto al opposto di me,
allora forse preferisco che tu mi ami con il tuo cervello."
 - Giuseppe Pietrini 
(incorporando Friedrich Nietzsche*)

Non potrò mai cadere per l'errore di amare chi è solo cuore. In cui c'è una sete inestinguibile di essere amata. Chiunque è sarà veramente amare così tanto più se stessa che a qualcun altro.

E con una narcisista è ben noto che prima o poi si farà male a coloro che si innamorano di lei e lasciarla entrare a far parte della sua vita. Al di là di tutta la illusione che il suo amore può causare, lei difficilmente sarà un amore a sopportare un'eternità.

Questo è vivere troppo pericolosamente per me. Non lo voglio mai.
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* Il buon vecchio Nietzsche, che ha vissuto parte della sua esistenza a Genoa, Torino e Venezia.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

• Carta aberta a uma mulher

A uma mulher qualquer, que eu já encontrei ou que me encontrará:

Caríssima, 

Tu que me lês as palavras aqui gravadas, que me abordas na rua ou neste ciberespaço imenso, onde até podias bem ter abordado outros, tu que me chamas a atenção sobre ti, tenho a dizer-te que… ai, anjo, tu colocas-me tantas vezes a desejar proclamar-te isto:

Eu quero usar o teu corpo. E que desfrutes do meu.

Deixa que finjamos que tu és aquela que eu amei no passado. Ou a que hoje amo, mas que não está junto a mim. Que não me importo que finjas eu ser aquele que mais terá mexido contigo, pelo teu lado. Quero forrar a pele toda do teu corpo com incontáveis beijos. Quero saciar-me com teus gemidos de êxtase após toda a tua carne ter sentido as minhas ávidas mãos nela. Devolve-me com juros de mora, se te aprouver, as mesmas malfeitorias. Quero que nos fundamos num só. 

Quero que me venhas desinquietar com frequência. Ou só uma vez. E que pagues o preço dessa tua insensata atitude. E que me digas que de muito bom grado o fazes.

Mas ainda quero mais! Eu quero tocar-te a alma. E que tu cutuques a minha à vez, também.

Vem comigo, que te levarei aos meus jardins secretos. Que com nós dois como povoadores, hão-de nos parecer quais raros Alhambras. Ouviremos o suave chilrear das pequenas aves matinais, misturado com o cantar das águas frescas dos riachos e o cheiro da erva molhada. Seremos banhados pelas luzes e sombras de frondosas árvores. Sentir-nos-emos a voltar a viver, como a flor que sente a primavera despontar.

Sai da tua vida e entra por umas horas na minha. E fala-me das tuas desventuras, que eu sou todo ouvidos.

Tu sofreste com a rejeição do teu antigo amante, que um dia desapareceu no éter. Tal como a mim aconteceu também. Tu viste o amor da tua vida dizer o seu último suspiro em teus braços. Tu rompeste com uma situação em que não te sentias preenchida como ser humano inteiro. Tu queres estar só apenas quando for essa a escolha tua. E em comunhão com outro ser quando for a bendita escolha de ambos. Tu achas que o amor tem de ser mais do que isto que até hoje viveste.

Tu queres-me. Tanto como eu a ti. Porque sabemos que juntos vamos voar mais alto. Acima da maioria de nós, humanos. Vamos aflorar a maneira como os deuses são.

Vem. Pega na minha mão. Vem com tudo. Mesmo tudo. Ou não me digas mais nada. Porque me tortura a alma te escutar sem nada poder fazer por ti. Porque tens temor do que nós podemos nos tornar. Porque queres mas ainda temes voltar a amar. E vai. Mas não desistas de sonhar.

“Since I became a lover, this is my occupation…"
- Mawlana Jalal ad-Dln Muhammad Rumi -