quarta-feira, 22 de outubro de 2014

• I, a dad with lots of kids


Era um dos meus sonhos de começo de vida adulta. O de ter uma g’anda cambada de putos.

Não muitos, também. Nada de duas dúzias, por exemplo. Não. Aí uns sete ou oito, conforme a vida o permitisse. E não todos naturais, gerados por mim e pelas minhas almejadas sete esposas, não.

O meu sonho era bem específico: casar com uma boa candidata a super-mãe, que partilhasse este desejo comigo de criar uma família numerosa, iniciada com um filho natural e prosseguida com filhos adoptivos. De diferentes raças humanas. Para termos assim como que uma pequena ONU de trazer por casa.

Bem assim como mais tarde começaram a surgir famílias iniciadas por alguns casais de estrelas de Hollywood mais mediáticas. Como Woody Allen e Mia Farrow, que não correu lá muito bem a sua história. Ou mais recentemente, Brad Pitt e Angelina Jolie.

Não que eu visse nestas famílias um modelo, não. Apenas porque eu achava interessante proporcionar o convívio debaixo do mesmo tecto de meninos e meninas que à partida teriam backgrounds culturais diversos. E ver qual o resultado que a minha suposta mestria como pai poderia dar.

Isto foi no princípio dos meus vinte anos. Década da minha existência que viria a fruir demasiado rápida. Mal me apercebi disso e já estava à beira dos trinta. E nem sombra de companheira feminina nem de um projecto pessoal de construir um ninho suficientemente amplo para albergar toda aquela prole que tinha idealizado.

De modos que esse sonho ficou na gaveta. 

Hoje, a exactamente a uma semana de completar cinquenta e quatro outonos (pois não nasci na primavera), estou na mesma. Sem eira nem beira. Sem a companheira para abraçar no fim de cada dia, ao regressar ao lar. E sem o tal lar. Doce ou amargo lar. Nada.

Nada, isto é, não é bem assim! Há uma cria minha que entretanto nasceu. E que está agora na vez dela de apalpar terreno nessa área do saber que é o de constituir família.

Cuidei que já era tarde para mim agora para experimentar ter a tal cambada de putos para educar. E de uma forma duradoura, até é. Mas o destino prega-nos partidas…

Ao mesmo tempo que um desafio profissional que abraço neste momento - o de ser animador turístico - me está a proporcionar um certo “retiro espiritual” de que falei num post de outro blog meu, também este métier me dá a chance de trabalhar com crianças.

No passado sábado, neste kids club de um hotel algarvio que é o meu local de trabalho, experienciei o que é ser como que um pai-coach para um miúdo de onze anos, que vinha de Lisboa com os seus pais passar o fim de semana.

Já tinha sentido o mesmo com outro miúdo da mesma idade durante toda a semana que decorreu. Desta feita um rapazito escocês de Edinburgh. Ambos reclamaram bastante do meu tempo, atenção e energias para os acompanhar na prática de vários desportos e jogos, como ténis de mesa, basquetebol, badminton, voleibol e matraquilhos. À falta de condições para experimentarmos mais outros.

Pareceu-me que estes dois miúdos gostaram de me ter como um paizinho sempre disponível para jogar com eles. E até julgo que a minha dedicação a um destes miúdos despertou algum ciúminho no seu próprio pai. Que era um pouco severo com o rapaz, talvez movido pelos seus valores conservadores.

E para além destes dois rapazes, tive ao meu cuidado exclusivo cerca de oito a nove meninos e meninas inglesas, com idades entre os três e os quinze anos. De maneira que às tantas eles foram um simulacro daquela família numerosa que eu outrora quis.

Pu-los todos a fazer actividades diversas, dando especial atenção a duas pequenitas que queriam colorir com lápis de cor uns desenhos de figuras conhecidas da banda desenhada e a jogar sjoelbak. Que é uma porcaria dum jogo holandês a que acho pouca piada. Mas os miúdos deliram com esta coisa…

Os meus dias têm sido, desde que sou um algarvio emprestado, um mar de felicidade. Da mais pura. Obrigado, meus deuses.  ;-) 
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Nota: E hoje até tive tempo disponível para escrever este post, enquanto estava com o kids club de porta aberta. Os miúdos e graúdos deram-me esta trégua momentânea. Pudera!… Está um bafo de calor no ar daqueles que me dizem que nem em Agosto aqui tiveram. E o que apetece a todos é mandar umas valentes cacholadas na piscina. Por isso deixaram-me sozinho e tranquilo, como um observador da boa vida deles. Que é a minha, também.