quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

• My cuddling addition

No meu post imediatamente anterior a este resolvi mostrar um poema que me saiu da inspiração do travesseiro. E dum efeito de indução provocado por uma amiga* minha do feicibuqui, que teve a grande amabilidade de publicar no meu mural da dita rede social alguns versos da sua lavra.

Neste referido poema, que intitulei de "Paraíso Perdido", expus aquilo de que tenho maior carência hoje. De cuddling. De ficar abraçado por horas a fio e em silêncio. Num sonho de um momento passado que a minha memória reteve como dos mais doces que vivi. E que não vai repetir-se jamais, muito provavelmente…

Hoje, na ressaca desse laivo de inspiração criativa que desceu em mim, racionalizo o que me aconteceu. E concluo que o homem vulgar, quando no poeta se transmuta, é como o pavão quando abre em leque as penas da sua exuberante cauda multicolor.

Ou seja… se eu falei de algo que sei que não vai acontecer de novo, com aquele ser com quem vivi num breve paraíso terreno, é porque a primeira intenção, quiçá inconsciente, por trás dessa atitude é afinal esta: quis exibir a minha cauda como o pavão.

Quis proclamar aos quatro pontos cardeais "Reparai no modo meu de amar. Quem gosta também desta forma tão doce de amar? Quem quer ser por mim amada assim? Haverá neste mundo quem me venha a amar assim de novo?".

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* É dedicada justamente a esta amiga a banda sonora original (OST) deste post. Para escutá-la, clicar aqui. Admirai como a magnífica interpretação de todos os actores cria um belissimamente sublime quadro vivo. 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

• Paraíso perdido


Voltaste. E a nós queres.
Imóvel logo me quedo
Com a tua cega mirada.
Sei que o tempo vai parar.
Vamos olvidar o mundo
Nesta nuvem partilhada.

Das casas botões desalojas.
Enquanto a face tua afago
Na tez do meu peito dedilhas.
Os arfares trocados são.
Pontes são relançadas
Entre nossas duas ilhas.

Os lábios actuam em dupla.
Cerram fileiras os corpos
Auxiliados pelos braços.
Extasiadas as almas vão.
Os olhos estão exclamando
Que perdoam erros crassos.

Ao silêncio nos entregamos.
As palavras vãs se tornaram
Perante este nosso carinho. 
Ofertas-me todo o teu ser.
E rendido ao teu convite
Adentro esse cálido ninho.

Não somos mais que um só.
Já o pensamento nos une
Tal como a carne o faz.
Ser teu não posso dispensar.
Assim ao teu lado deitado 
É lá que está minha paz.

Porque não me procuraste?
Como podes existir sem isto,
Deixando a vida passar?…
Este sonho, se não for real,
Em demanda de tal Éden,
Só me resta por aí errar.


Giuseppe Pietrini               .

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

• Where are you?…

Where are you?… I thought I had found you, once or twice. But no. Because the ones I thought they could well be you have ceased to love me the way I am. So, they couldn't be you... Right?... Right???... Am I seeing things clear? Or rather not, once more? 

Where are you?… Why are you so late to show up? Will you ever do it? Have I already seen you? I haven't payed you the attention you deserved, surely... Will we ever meet again? Or for the first time? Will we live together one day? For the rest of our lives?

Where are you?… Do you even exist in this world, my love? And in these times were living now, as well? I feel so damn lost without you...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

• Le chant des sinères

Une sirène bretonne, déguisé
dans sa forme entièrement humaine
"On n'a rien perdu", dit-elle avec la sincérité que la mauvaise humeur dégage.

Lorsque nous sentons qu'on n'a rien perdu, je dis, c'est parce que nous croyons qu'on n'a rien eu. Pour elle, ça sera bien. Pour moi, il n'est pas. J'ai perdu. J'ai perdu l'étreinte. Le sourire. Le baiser. Le lit. L'affection. La compagnie. Soit, tout.

Le chant des sirènes est toujours quelque chose concocté... Un homme devient ivre vers le haut avec ça. Il tombe amoureux facilement, même par inadvertance. Oublie que la sirène est un être volage. Et quand vous moins y attendez, elle s'évapore.

La sirène ne veut pas les chaînes en soi, ni qu'elles sont les plus douces. Le magnétisme de la mer survient, plus tôt ou plus tard. Car la mer représente la liberté. La renonciation de la remise à quelqu'un d'autre. Que la sirène ne peut pas supporter éternellement.

Tu m'as appris à aimer, petite sirène et sorcière. Et si tu m'as tellement essayé d'avertir! ... "Regardes bien, que l'amour est un malheur!...". Mais quoi! Comment allais-je t'entendre, si j'étais reposé dans tes bras tout mon être, même l'âme. Tu savais bien qu'il y aurait une fin qui devait venir. Mais j'étais en plein rêvé et sans aucun envie de me réveiller.

L'ordre est venu et tu as eu la décence de la déclarer unilatéralement. Tu ne pouvais pas me laisser à jamais dans l'environnement onirique. T'as bien fait. Et moi, imbécile, que fais-je?... J'essaie de trouver une autre sirène. Irrationnelment. Et oui.

Celle-ci fut, peu à peu, faisant de façon que je puisses t'oublier. Pendant des années à fil. Afin de réclamer sa place exclusive dans mon coeur. Et à la fin elle a réussi. Mais il y a toujours un effet secondaire dans les processus de durcissement. Le souvenir de toi, maintenant disparu, est remplacé par un autre mémoire de l'expérience de vivre avec elle. Due à la grande générosité avec laquelle elle s'est donné à moi.

Je l'ai perdu. Et elle ne se sent pas qu'elle m'a perdu à moi. Et je ne le manque pas. Parce que peut-être elle a toujours su qu'elle ne m'a jamais eu.

Maintenant, je ne veux pas avoir. Ne pas revivre la douleur de la perte. Je deviens lâche. Et il n'y a qu'une seule chose que pourrais bien me réveiller le courage. Elle vouloir m'avoir à nouveau, même si ce soit pour un seul jour.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

• A poesia e o nosso povo

Anteontem fui surpreendido e tocado pela invulgar beleza da sabedoria popular de António Aleixo.

Um ser humano raro, que faz-me o favor de ser uma amiga minha no facebook, partilhou no seu mural, como soe fazer quotidianamente, um pequeno texto. No caso uma quadra deste poeta algumas vezes negligentemente ignorado. Que reza assim:

"Não te beijo e tenho ensejo 
de um beijo te roubar.
O beijo mata o desejo
e eu quero-te desejar."

A leitura destas linhas tão simples porém tão sublimes ecoou na minha memória durante a jornada inteira. Ó quadra tão sagaz e vera, saída da mente de um homem genuino do povo que, dizem, nem soube bem as letras enquanto viveu.

Pela grandeza da sua humilde alma, de cada vez que eram por mim reavivadas estas palavras de ouro em surdina, em meio às gentes da urbe de Ulisses com quem me cruzava, uma sacana duma lágrima teimosa escapava-se-me.

Quem estiver a ler esta confissão, cuidará que caminho pela vida tristemente. E no entanto sou feliz.

Feliz porque ainda choro com estas coisas. Porque ainda sou muito sensível ao belo imortalizado por quem me ensina tanto. Porque ainda não estou empedernido. E porque isto me basta para ser feliz.

Por ser assim como sou, e sustentado ultimamente até por uma tranquilidade inbalável, creio que isto faz de mim também um ser belo e digno de ser amado. E ainda hei-de sê-lo. Ou sou-o já hoje, de facto.

Recebo muito carinho, que me chega nas horas mais inesperadas, bem como nas mais necessitadas, de várias proveniências. De umas encantadoras amizades, que fui ganhando neste último ano de uma repentina solidão.

Ah, mas quem dera voltar um dia a beijar! 

A beijar áquela a quem o beijo jamais matou o desejo, antes o reforça. Beijar, agora que quero mesmo merecer o beijo seu.

Ou, se for esse o meu fado, e assim os deuses designarem, a não beijar mas abraçar esse meio mundo que me busca. E ao buscar-me, me mantém vivo e radiante. E me faz ser bom.
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O poeta António Aleixo nasceu no dia 18 de Fevereiro de 1899, em Vila Real de Santo António, filho de José Fernandes Aleixo, tecelão de profissão, e de Isabel Maria Casimiro, doméstica, naturais seu pai de Loulé e sua mãe de Vila Real de Santo António.

Acessoriamente a ser um poeta popular, da história da sua vida de homem simples, ficou sobretudo conhecido António Aleixo por ter sido cauteleiro e vendedor de gravatas nas ruas de Loulé, cidade onde viveu a maior parte dos seus anos. Diz-se que também foi guardador de rebanhos, bem como cantor popular de feira em feira. Menos referidos sobre ele foram os factos de ter sido polícia, em Faro, e servente de pedreiro, emigrado em França.

Depois de já ter aqui neste blog mencionado um outro vate, Fernando Caldeira, agora com este lembrar a António Aleixo, figura que estará no espectro social bem apartado do primeiro, que pensar senão que este é de facto um país onde todos temos a poesia no nosso código genético comum?...