quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

• O fogo eterno

Foto de mim, hoje,
"Saber não ter ilusões é absoluta-mente necessário para se poder ter sonhos.", Fernando Pessoa, in "O Livro do Desassossego"

A cada dia, uma nova esperança, seguida de uma nova desilusão. Tem sido este o meu penoso viver.

Todos os dias os deuses me oferecem um novo motivo para acreditar num renascido futuro risonho. Mas, por desgraça minha, que se me colou à pele de forma indelével, nunca tarda muito, invariavelmente, para que eu deixe de crer em cada uma dessas novas oferendas. Por me parecer sempre utópica ou quase.

Já não sonho com quase nada.
Não consigo fazê-lo, de tal modo a fé abandonou a minha alma.
Já não sonho com uma nova casa.
Já não sonho com um novo emprego.
Já não sonho com concretizar a viagem dos meus sonhos.
Já não sonho com ter mais dinheiro.
Já não sonho com a descoberta de Shangri la.
Já não sonho com a posse de bens materiais.

Já só sonho em ter um novo amor.
Um amor inteiramente novo.
Ou um amor renascido das cinzas frias.
Das cinzas que, com o cair das folhas do calendário, o vento vai dispersando. Para longe. Irreversivelmente.

Só com um novo amor, creio poder voltar a sonhar com tudo o resto.
Já não sei sonhar sozinho.
Como um filho, um sonho tem de ser concebido a dois.
Os meus sonhos, como óvulos, têm de ser fecundados para nascerem. Ou então, se oniricamente estéril me tenha tornado, tenho de adoptar os sonhos de a quem me juntar.
Mas de uma forma ou de outra, tenho de sonhar acompanhado. Senão, não estarei a viver.

Hoje vou sobrevivendo. Sou uma chama acesa a que o combustível não tem ainda faltado. Até quando?...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

• Speechless am I...

Imagem com fundo verde esperança, a cor também do pensamento expresso, tão belo quanto sábio.

Neste blog, onde os textos publicados têm sido invariavelmente autênticos testamentos, finalmente um post com serviços mínimos.

A ver se agora haverá mais comentários de leitores. Ou tão-só mais e novos leitores. Olhem que se não comentarem, eu dou mesmo cabo do patinho!... Não estou a brincar...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

• Amor e cobardia


Confesso. Já fui cobarde* muitas vezes.

Admito mesmo mais: sempre fui cobarde. Amor e cobardia são a mesma coisa, como já li numa citação que alguém produziu antes de mim.

No julgamento que todos os deuses e alguns humanos - aqueles poucos que me prestam atenção - me fizerem, farei este acto de contrição e esperarei que este me sirva ao menos de circunstância atenuante. É que nem todos os homens terão consciência da sua cobardia e farão o mesmo que eu.

O Amor é como um carneirinho, de lã farta, alva e fofinha, pastando pachorrentamente num verde prado primaveril. Metáfora linda à primeira vista. Mas se aproximarmos a nossa visão, atrás das suas orelhitas detectaremos carraças mil!...

O Amor é algo bonito em si, mas que arrasta consigo um ror de feios paasitas. O primeiro sendo, talvez, o ódio, que domina o seu portador, o Amor, em três tempos, tantas vezes... É aquela história da ténue fronteira.

Mas há outros parasitas mais. O egoismo, a canalhice, a traição, a cobardia... Oh, como já fui cobarde a jogar o jogo da sedução... egoísta, canalha, traidor e cobarde... e como também já sofri com a cobardia alheia. De quem fingiu me amar até ao fim, já não o fazendo de verdade... e nem sequer era uma cobardia de índole intencionalmente maligna. Apenas uma cobardia estúpida.

E tende muito cuidado, gentes, que a estupidez humana é infinita, segundo Einstein, e pode ser-vos letal!... No nosso amor próprio, fere-nos mais o próximo que connosco é estúpido do que aquele que é tão-só maquiavélico.

Mas eu tudo compreendo e aceito, resignado. A punição divina que me deram, é aquela que eu mereço. E não posso querer mal a quem me feriu. Porque é inimputável. Porque nós não mandamos no nosso coração. Este é apenas um instrumento nas mãos de entidades sobre-humanas que regem o fado de cada um de nós, mortais.

Sabeis, a cobardia tem um preço. Aquele que eu sempre paguei foi o de ficar cativado sem remissão, no fim, sempre já demasiado tarde, por quem a princípio seduzia e nem tinha a convicção plena - mas, e depois também, como a poderemos ter tão cedo?... - de querer amar incondicionalmente.

E como é alto esse preço, asseguro-vos...

Aposto que Bob Marley proferiu esta máxima que lhe atribuem numa conjuntura particular dele... a de uma valente dor de corno! Provocada por um canalha que lhe andaria a tentar catrapiscar a sua companheira - que ele, Bob, deixaria andar livre para voar e ser ela mesma, sem quaisquer amarras - pelo simples gozo do jogo da sedução. Essa actividade desportiva tão canalha e tão intrínseca dos homens...

Vou terminar de vergastar o Amor, por hoje, apontando o dedo também ao sexo oposto. Que ninguém está inocente no Amor. Todos, de ambos os lados da barreira, têm a sua dose de cobardia.

Reflectindo sobre o pensamento marleyano, invento agora eu esta verdade:

"A maior cobardia de uma mulher é não contar quando o seu amor acabou, deixando o homem viver na ilusão das juras de amor eterno antes dadas por ela.", Giuseppe Pietrini
Não mais quero ser um cobarde. Mas não queria deixar de amar...

________________________________________________________

* Tradução da citação em inglês na imagem acima: "A maior cobardia de um homem é despertar o amor de uma mulher sem ter a intenção de a amar.", Bob Marley
Nota: em ambas as citações, a minha e a de Marley, os papéis dos dois sexos podem perfeitamente ser intercambiados entre si, que o valor da verdade das expressões produzidas não sofre qualquer alteração de estado.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

• São Valentim

É o meu coraçãozito...

Está onde tu o deixaste. Aí se quedou, desde a tua partida para uma vida nova, plena de esperança. Como tu assim disseste para ti mesma e assim pretendes crer.

Eu para aqui estou arrecadado. Num espaço e tempo vazio. Mas graças aos deuses, a natureza tem horror ao vazio. E não tarda em preenchê-lo.

Não fosse a nossa separação e o caminho da minha existência não se teria cruzado com aquela, aqui bem perto, do outro lado do habitat das tágides, que é a maior amiga do sexo oposto que um homem das minhas qualidades e defeitos pode neste mundo ambicionar conhecer. E como é bom poder servir a ela com um imesurável prazer como amigo incondicional.

Não fosse eu gritar aos ventos a carência do teu abraço e eu não teria sido descoberto por uma alma gêmea do outro lado do mundo, para lá do Adamastor. Alguém que me leva a acreditar que um dia, antes de eu nascer e da minha alma vir habitar este corpo meu, ela se terá fendido em duas unidades. Uma delas ficou minha inquilina. A outra aguardou alguns anos mais para se decidir enfim, por ir viver com aquela minha semelhante que veio ao mundo na Pindorama.

Dizes-te alma solitária. Confessas que ainda assim, foi de início ao meu lado que terás encontrado outra alma que mais te compreendia e completava. Terás deixado de crer nisso, talvez.

Eu também me julgava solitário. Não mais me posso considerar tal. Não depois de ter recebido estas duas oferendas dos deuses que mencionei. Mas ainda assim, estarei no próximo dia de São Valentim só. Sem ti ou outra qualquer mulher para poder prestar as minhas homenagens nesse dia sagrado para a minha religião: a adoração da beleza feminina.

Resignar-me-ei. E talvez assim dessa sorte me metamorfizarei no poeta e filósofo maior do Amor. Que esta terra e eu próprio ainda teremos por descobrir dentro em mim. Se é isso o desígnio dos deuses... eu digo: aqui estou. No meu canto.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

• Cansei de caçar borboleta

Amar-te...

Amar-te, na tua ausência, é
não pensar senão em ti.
É estar contente com o teu contentamento
inda que deste a fonte não sejamos.
É sufocar a contínua dor
da residual permanência
de ti dentro de nós

Mas amar-te também é
ir procurar-te em todas as mulheres.
Julgar sentir o suspiro teu
no seu arfar
e não te encontrar
porque amar-te depois que te foste
é não te ver
em corpo ou lugar nenhum.
Amar-te assim é o vazio.
Má fortuna um dia ter amado
porque quedar de o fazer
não podemos mais.

Também é amar-te
não pensar somente em ti.
Cuidar que não tenhas sempre
as orelhas aquecidas.
É lutar contra nós próprios
desviando a teimosa ideia
de ti remoendo em nós.
É passar a ter atenção
a quem não a dávamos.
É escutar mais e melhor
o mundo antes longínquo
e voltar então a ti
com serenidade
para conseguir viver
sem ti
e deixar-te ser feliz
sem nós.

Se um dia, quiçá, tornares
que a coragem te não falte
porque não vai caber em ti
todo o amor que te guardo.


Esta prosa, talvez poética, é dedicada a quem se demiitu de me amar por inteiro. Mas também tem de sê-lo a esses seres maravilhosos, todas as mulheres deste mundo que têm um coração capaz de se apiedar com a visão de um cão abandonado na rua.

sábado, 15 de janeiro de 2011

• Fiat lux!...

Aos quinze dias deste mês de Janeiro do anno da graça de MMXI, eu vi finalmente a luz.

Foi necessária alguma dor, mas eu vi-a. Foi ao sentir uma circunstancial total ausência de emoções no diálogo com quem nem faz ainda um trimestre me presenteava com generoso carinho e afecto e, quiçá, algum amor, que eu percebi o meu principal handiicap sentimental.

Verdade seja dita que a mão procurou ser emendada algumas horas depois. E eu devia estar grato por isso a ela, mas estraguei tudo de novo, porque já não sei o que digo ou o que faço.

Ajudou-me também antes ter lido no Facebook o poema de Augusto Branco "Vida - Já perdoei erros quase imperdoáveis".

"Mas afinal o que foi essa famosa revelação que tiveste hoje?", pergunta-me o meu Eu profundo, como se nada soubesse ou só a querer meter conversa, para compreender o que o meu Eu de carne e osso - por facilitismo de linguagem, chamemos-lhe "superficial" - tinha então assimilado.

"Eu nunca fui capaz de amar verdadeiramente ninguém até hoje na minha vida", retorqui-lhe Eu, dito o "superficial".

Eu profundo: E isso fica a dever-se a quê, no teu hoje adquirido novo entender?

Eu "superficial": À minha imensa sede de liberdade, que me impediu sempre de me entregar completamente ao Amor daquela que comigo resolvia dividir os seus dias e carinhos. Desde a mãe da minha filha até à derradeira mulher que comigo penou durante nove anos, que se escoaram tão lestos.

Eu p.: Pois...

Eu "s.": Mas de qualquer forma, eu dei-me também ao Amor. Não totalmente mas dei-me. O meu abraço nunca foi frio. O meu peito e ombro estavam sempre disponíveis, se com urgência eram requeridos. O meu beijo era sempre sentido. Ainda que eu beijar não saiba, segundo o que me fizeram ver um dia, não beijei à toa. Não beijei só por gostar de beijar. Beijei porque amava naquele momento.

Eu p.: E porque estás a proclamar isso agora?

Eu "s.": Bem... não sei. Talvez esteja só a dizê-lo para me confortar a mim próprio.

Eu p.: Ah!... E agora, á luz dessa tua descoberta, o que contas fazer doravante?

Eu "s.": Deixar-me enredar total e incondicionalmente pelo Amor. Não mais desejar ser livre. Dar-me todo. Casar num templo sagrado, com todo o ritual seguido a rigor e a contento da sociedade. Ter de novo um filho e desta feita vê-lo crescer todos os dias. Construir finalmente um lar a sério. Que contenha dentro dele todos os abraços do mundo.

Eu p.: E como é que fica aquela história da tua doutrina de vida, o Pietrinismo?

Eu "s.": Eh pá, isso era um Eu que já não existe hoje. Era aquele insano que eu até ontem era, sequioso da sua querida e inglória liberdade, a bradar aos ventos sem fazer qualquer sentido. Eu hoje mudei.

Eu p.: Só que agora é tarde para essa sábia resolução tua. Dormiste na forma... e acordaste um dia com 50 anos e sózinho. Desdenhaste do destino que os deuses te tinham delineado. E aquela que Estes tinham planeado para ti foi-se...

Eu "s.": Bem o sei, não careces de avivar-me a memória! Choro ainda a sua partida devida à minha cegueira, quiçá para todo o sempre. Mas se o milagre do seu retorno ou da chegada de outra que eu mereça acontecer, saberei como fazer melhor que no passado.

Eu p.: A ver vamos, se essa fortuna tiveres, se cumprirás com o que hoje estás a jurar.

Eu "s.": Vai-te catar, meu c...ão de m...da! Também tu a jogar-me ainda mais para baixo? Já não basta o mundo inteiro? Até os do meu próprio sangue não compreendem a minha dor e perceber como me sinto escapa ao seu entendimento. Para que me estás a mandar essa boca? Onde estavas tu, quando de uma consciência eu necessitei?

Eu p.: Eu? Mas então o menino não queria ser livre como um pássaro e pousar em todos os ninhos? Foste tu que tomaste por modelo esse libertino do Elmano Sadino.... Muitos como tu olvidam no entanto é que ele escreveu também isto: "Meu ser evaporei na lida insana / Do tropel de paixões, que me arrastava". Agora pagas a factura. A tua tão anseada liberdade custou-te aquela felicidade que por ilusão já achavas assegurada até ao fim dos teus dias.

Eu "s.": Pois... mas eu digo-te que agora vou ser recto. É já tarde para o decidir e talvez até vão, porque posso tornar-me um eremita sem remissão. Mas...

Eu p.: Esse é o teu mais provável fado, meu velho... pois com a dor da recente perda, tu estás a ficar louco.

Eu "s.": Louco estarei por vezes, admito-o. Mas hás-de concordar que após esse estados de alma transitórios, uma lucidez de qualidade ímpar também me vem.

Eu p.: Hummm....

Eu "s.": Lembra-te lá: nós dois assistimos a um filme há uns tempos em que um guru desdentado dizia que, às vezes, é preciso perder o equilíbrio por instantes para depois voltar a ganhá-lo de forma permanente.

Eu p.: Com essa agora, surpreendeste-me...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

• Passion, sweet passion...

...you are my home.

Ando em demanda de quem por mim se apaixone. . Digo-o assim, porque eu não sei se eu quero ou sequer posso, em reciprocidade, me apaixonar por alguém.

Mas todavia anseio que alguém se perca de paixões por mim. Mais uma vez, venho incomodar os deuses com o pedido desta graça. Porque eu creio merecê-la! Porque há quem me veja ainda como um homem bom e um ser lindo. Isto dito até por quem se demitiu de me dar o seu amor... e com quem eu me comportei amiúde como um monstro.

O caminho que os deuses me mostram para tomar nestes dias de cinzenta e basta humidade é o que me vai tornar num eremita. Mas eu não vou fazer essa escolha! Sou bom demais para ser um eremita! Sou novo demais para quedar-me só. Sou grande demais no Amor para não ser nunca mais benefício para quem neste mundo de amor careça. E se há por aí tanta alma que o pede, e com fervor...

Eu quero simplesmente colo. Mimo. Carinhos. Abraços. Calor humano. Não é outro alguém em si que eu desejo.

Tenho em stock a mesma mercadoria sentimental para trocar com quer quiser fazer negócio comigo. E estou vendedor e comprador ao mesmo tempo desses bens.

Mas talvez seja meu dever previamente informar de algumas advertências a quem venha a ter a desdita de amar este Scorpio, pelo que ele tem de intrinsecamente sublime do seu signo astral. E que é:
  • Não me peçam, quando cansadas ou nem tanto, para vos descalçar e despir, para em seguida vos ajudar a enfiar o vosso pijaminha sexy. Sobretudo se este até nem for tão sexy como isso... e até esteja um pouco esgaçado, caras donzelas.
  • Não me peçam para vos fazer uma massagem nos vossos dorsos doridos mas esbeltos ou nos vossos cansados mas belos pézinhos.
  • Não me peçam para pousar as vossas cabecitas douradas ou negras no meu peito lusitano, afim de darem largas a algum pranto incontido que este mundo vos tenha causado.
  • Não me peçam para nesse desiderato as abraçar, afim de receberem o calor do vulcão que em mim está adormecido mas sempre lesto a tornar-se activo.
  • Não me peçam para cozinhar aquela pasta al suco di pesto a la genovese ou o spaghetti a la putanesca para saciar o vosso transitório apetite gourmet.
  • Não me peçam para ser vossa companhia e cúmplice em missões mais espinhosas ou dolorosas mas urgentes e que a vida vos impõe como necessárias. Ou inclusivé nas vossas actividades de puro lazer.
  • Não me desassosseguem sussurando com as vossas doces vozitas um "vem cá ver uma coisa", dos confins da caliente alcova onde se encontrem, dando repouso à vossa alma languidamente.
  • Não me façam festas no rosto e nos cabelos quando me virem entristecido. Deixem que me feche na minha concha quando estiver mais in the blues. Não lutem por mim.
  • Não corram para os meus braços ao me verem assomar ao vosso encontro por la calle, em encontros previamente anunciados.
  • Não me dêem a vossa aveludada pele toda aos meus ávidos lábios de vos oscular e às mãos minhas sequiosas de vos afagar.
  • Não me tratem pelo diminuitivo do meu primeiro nome próprio verdadeiro. Ou ainda, não customizem ainda mais esse diminuitivo roubando-lhe sílabas, como se de prefixos inócuos se tratassem.
  • Não riam a bandeiras despregadas dos meus toques de telemóvel inusitados.
  • Nunca queiram ser a parte primeira a desejar acender o cachimbo da paz, após os costumeiros arrufos que certamente também teremos.
  • E por fim, não se dediquem de corpo e alma completamente a mim.
Isto porque... se o fizerem... tal poderá ter um sabor agridoce para mim. Far-me-á, à vez, bem e mal. Provocar-me-á alegrias exteriores e interiores prantos. Se é que me faço entender...

Eu quero e não quero o que enumerei. Quero porque necessito de amar e ser amado. Não quero porque não imagino mulher alguma neste mundo que possa ser como aquela oferenda dos deuses que eu menosprezei e me demiti de lutar pelo seu amor quando era mister fazê-lo e com urgência.

E há ainda uma razão de fundo para não fazerem nada do que foi referido atrás. Uma razão talvez canalha. Porque eu assim sou-o. Porque o Amor assim o é também, bastas vezes...

É que... se o não fizerem nunca... eu... em desespero de causa... sou capaz de pagar-vos para que o façam mesmo!!!...

domingo, 9 de janeiro de 2011

• Amore ed Ingiustizia

Deambulo neste domingo triste de Janeiro e os erráticos passos meus dirigem-me autisticamente até ao Campus de Justiça, na zona da Expo, nesta minha outrora designada Ulisseia. Que me tem sido aziaga. É já tempo de zarpar para outro lugar, julgo eu...

Miro este bloco de edfícios que a imagem acima ilustra e cogito: um belo exemplo de algo desenhado com paixão e um lápis, destinado a encerrar nele temporariamente vidas em horários ditos laborais, onde o Amor não medra.

E porque havia o Amor de existir num Campus de Justiça? Se o Amor é em sua essência injusto?

Sim, mantenho, o Amor é injusto. Porque Este nos invade o corpo e a alma, avassalando-nos quando menos o esperamos. E não temos então a sua urgente necessidade. E larga-nos depois com a dependência dele, quando não o antecipamos cautelosamente.

E porque haveria o Amor de ser justo? Quando nós* somos tremendamente injustos com Este.

Desprezamo-lo quando o Amor se dá a nós em toda a sua generosidade. Outras vezes também o desvalorizamos e queremos mais ainda, quando o que já recebemos d'Este nem o merecíamos ainda.

O Amor, o Amor... sempre o Amor! Porque não consigo pensar noutra coisa senão no maldito Amor hoje? Esta adicção da minha alma nem me faz recordar de que necessito também de alimentar o corpo meu.

E passo ao lado daquilo que acontece nos dias que correm sem entusiasmo algum. A campanha eleitoral actual, em que me propus engajar-me com ânimo e determinação, para que este Portugal tivesse um real Presidente da República... Que, se não fosse eu a sê-lo, que já fui nos confins dos tempos um Rei, o mais lendário destes até, ao menos que fosse um "nobre" a morar em Bélem. Com vista para a Casa Pia...

 
* Quando digo "nós", falo por mim. Com esta minha mania de palrar como Louis XIV de França, "le Roi Soleil"...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

• Black Friday

Black Friday...

O crash da Bolsa de Valores de New York no longínquo 24 de Setembro de 1869. Os saldos no dia seguinte ao Natal em Inglaterra e outros países da Commonwealth, e agora, graças ao El Corte Inglés, também cá no burgo. Tudo a ver com a desastrosa no capítulo do Amor desta estação Outono-Inverno última, que ainda está a decorrer e que nunca mais parece acabar os seus dias aziagos.

Ia o Outono, que até era uma das minhas estações do ano preferidas, já com mais de 4 luas quando me separei da minha Primeira-Dama. A pré-campanha presidencial ficando desde logo relegada para a pasta dos assuntos menos importantes da vida. E a minha atenção desperta para outros que sofrem a mesmíssima desgraça. Ao mesmo tempo que eu.

Esta estação está a ser devastadora das relações amorosas. Desde anónimos completos até figuras públicas VIP. Democraticamente dividindo o mal pelas aldeias todas. Uma vaga de divórcios a que eu nunca estive tão atento senão quando o mal me bateu á porta também.

O Amor como um Valor universal enfrenta hoje o seu crash. As consequèncias? Milhares de almas boas e agora imensamente carentes em saldo por aí espalhadas.

Apenas dois exemplos: atentem neste post. E neste outro também. Onde palavras jazem lançadas ao vento, que podiam muito bem ser as minhas próprias também. Eu também estou em saldo.

No El Corte Inglés, podiamos esperar comprar artigos que a loja consideraria como monos - embora nunca o pudesse afirmar abertamente, como é evidente - a um quarto do seu valor anterior nesta última Black Friday de 26 de Dezembro.

No campo do Amor podemos esperar encontrar nos seus "saldos" almas riquíssimas agora solitárias a um preço elevadíssimo. O preço de nos apaixonarmos perdidamente por estas.

Estas almas semi-vivas vagueantes na Terra são autênticas caixas de Pandora. Magnificamente recheadas de tesouros tais como afectos e carinhos mil, acumulados sob a pressão de um dia serem libertados in your face, na face daqueles raros venturosos que se atreverem a experimentar rodar a chave do cadeado desses baús. Algo incomensurávelmente belo vai explodir-lhes na cara desses destemidos.

Eu encontro-me em saldo, a minha sede de dar-me em afectos guardada numa dessas caixas de Pandora também, neste armazém de ideias que este blog é.

Declaro a toda a humanidade aberta a minha personal Black Friday.

Por caridade, não me deixem ganhar muito pó...

sábado, 18 de dezembro de 2010

• Liquidação total

Estou a pôr o meu carro á venda.

Ao tomar esta decisão de me desfazer deste bem, uma reflexão germinou na minha mente... e porque não desfazer-me de algo mais? Fui-me rodeando de objectos que deixaram de ter valor para mim, ao longo duma existência mal gerida. Nada já tem valor, aliás... Assim... 

Vendo a minha biblioteca inteira também. Fernando Pessoa fez-nos constar que Cristo não teria uma... então para que preciso eu de livros? Estes eram para ser um legado que transitaria para a minha descendência. Mas ela também não lhe saberá dar grande valor ou utilidade. 

Vendo uma catrefada de CD's e de DVD's, que raramente ouço ou vejo, desde há muito tempo atrás.

Vendo a minha vasta colecção de revistas, na maioria em língua francesa, sobretudo exemplares da Geo e da Photo, mas também outras sobre fotografia, viagens e sobre mutos outros temas, alguns mesmo dos mais inusitados. 

Vendo a minha colecção de selos. Na qual não toco há anos. Outros entusiastas por pequenos rectãngulos de papel com cola num dos lados terão mais cuidado com estes. 

Vendo um conjunto de documentos históricos do tempo da II guerra mundial, constituido por brochuras e folhetos de propaganda de origem alemã e dos países aliados do Reino Unido, em português. Vendo uma pilha de cartões telefónicos usados de países estrangeiros. Vendo as minhas rackets de tennis. Vendo as minhas bicicletas de montanha. Vendo um conjunto de arco e flechas para iniciantes no tiro com arco. Vendo a minha tenda tipo igloo, sacos-cama e colchões insufláveis incluídos no pack com esta... 

Vendo o meu iMac G3, com 2 discos externos atafolhados de porcarias de ficheiros que fui deixando gravados neles, que recebia por emails, e que não interessam nem ao menino Jesus. 

Vendo até a minha alma. Se o Diabo não a tiver comprado já... pelo menos não sei se ele me deu em seu tempo algum recibo... mas provavelmente já não serei dono dela, não. 

É já a seguir!... Vou sem demora colocar um anúncio no eBay, onde no texto remeterei para este post deste blog. 

E depois de aliviado desses contrapesos, se os deuses assim quiserem, irei partir com o produto da liquidação total de uma vida com 50 anos por esse mundo fora. À procura de razões para existir outros 50 anos. 

Estou a ficar sem missão alguma para cumprir nesta vida. E eu quero viver até depois dos 100 anos, chegando a essa milestone do centenário como Manoel de Oliveira lá chegou ao seu. Melhor ainda, se possível. 

E além de uma nova missão na vida, uma razão a dar sentido a uma existência até agora gasta levianamente, quero reencontrar o meu quinhão de felicidade, brusca e recentemente perdido. A que todos os humanos deveriam ter direito. E eu sou um homem bom! Eu sei-o. Qualquer humano com um mínimo de sagacidade que me conheça avaliar-me-á como um ser não-descartável*. Tenho direito a ser feliz, caramba!... 

Esta felicidade que digo perdida bruscamente... talvez não o tenha sido assim tão de repente. Eu é que fui cego e não a via, não queria vê-la, esfumar-se diante dos meus olhos. Mas esta estava realmente a sofrer um efeito de erosão. 

Fui nos últimos anos depois do 11 de Setenbro de 2001 estragado com mimos. E agora esses mimos evaporaram-se no ar... Todos sabemos o que um menino mimado assim faz! Faz coisas que não deve... e eu fi-las... porque me julgava impune. Agora sei que não o sou, e apreendendo-o duma forma bem dura... mas merecida, decerto. É o meu karma

Sm, eu sou ainda um menino. Continuo a sê-lo com 50 anos. Não me deixei poluir pela racionalidade adulta. E por isso estou só. É o preço que se paga... 

Um dia, quando a ténue fronteira entre o amor e o ódio foi derrubada, qual muro de Berlin, e quiseram ferir-me rotulando-me de "cromo". 

Eu sou, de facto, um cromo

E creio que nunca conseguirei a façanha de quedar de o ser. Nem nesta absurda errância por este planeta imenso que me proponho empreender. Se para tal a fortuna e a coragem não me faltarem. Antes quero continuar um cromo que transformar-me num vilão ou num canalha. O que para um Scorpio é sempre uma tendência latente. 
  
A ver vamos o que os deuses me reservam nas próximas luas. 

A vontade de voar daqui para fora, essa está cá dentro enraizada, nos sonhos a realizar. É o fado do homem português comum... qualquer contratempo na nossa vida e cuidamos que é sempre deixando a barra do Tejo para trás que tudo se resolve. Ou esquece. 

Quero perder-me e reencontrar-me nas estepes geladas da Rússia central. Deixar os meus olhos observarem a beleza dos glaciares da longínqua Patagónia. Cheirar o ar envolvente dos nipónicos pomares de cerejeiras em flor... Será na pacatez das paragens arenosas e rochosas de Muscat e Oman que a felicidade e bem-estar moram? Ou na selva urbana de Manila? Bangkok, talvez... E em Natal? Do Brasil ou da África do Sul? Não sei se me detenha na Bretanha... nesse reino mágico anexado pelos franceses há mais de 500 anos ou na pequena povoação do mesmo nome no nordeste da ilha de São Miguel, Açores. Las Vegas era capaz de ser fixe... 

* Bem a propósito do que disse, deixo aqui esta citação: "Abandonando nobremente quem nos deixa, colocamo-nos acima de quem nos perde", Anne Louise Gemaine Necker, Madame de Stael. 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

• Words of Wisdom

Do blog "My Soul and You".

Que passei a seguir com ávido interesse, gostaria aqui de realçar algumas das palavras mais sábias que nos últimos tempos tenho absorvido. Neste post, se quiserem fazer o favor a vós próprios de clicar no link e o lerem com os olhos das vossas almas e não só com os da face.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

• O "Retiro Espiritual" relatado

Hoje às 18 horas terminará o período de 2 semanas de férias laborais a que tive direito e escolhi em torno da data do meu aniversário. Que este ano foi cumprido o quinquagésimo.

Tinha em mente fazer um tal de "retiro espiritual" nestas duas luas que passaram. Tal não foi possível. Estes últimas quinze jornadas foram assaz atribuladas para que pudesse ter existido a adequada paz de espírito.

Mas acabei por cumprir o retiro espiritual.

Durou apenas cerca de quinze minutos. Foi há cerca de uma hora atrás.

Creio ter conseguido comunicar com o meu Ser Interior. Que me deu um único mandamento hoje.

Como ser imperfeito que sou, não sei se conseguirei arcar com esse mandamento sempre, doravante. E por pudor de admitir vir a falhar, não revelo a ninguém esse mandamento. Mas vou procurar segui-lo a rigor.

Amanhã e depois, tentarei novamente entabular a comunicação com o meu Ser Interior. E na meia noite de um dos próximos dias deste mês de Novembro, ensaiarei uma solitária cerimónia secreta de comunicação com os Espíritos Superiores de Halloween - época do ano em que, certamente não por acaso, eu nasci - que regem os destinos de todos nós, humanos mortais.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

• O Pietrinismo

Afinal, ao invés do que aqui já declarei, a inconstância do meu ser lá me deu para, enfim, criar a minha própria doutrina - de vida, não apenas política -, o Pietrinismo.

Vou hoje aqui dissertar sobre o conceito de família.

E porquê? Vejam lá, porque estou once again officially single. Sofri um desgosto de amor, paga que recebi por ter dado outro desgosto desse calibre a quem o não merecia.

A vida tem de continuar. Ou como dizem os americanos das fitas de cinema, the show must go on.

Um desgosto de amor cura-se com outro amor.

Por isso, vou tentar definir o remédio certo. Vou experimentar fazer o retrato-robot do amor perfeito.

Quero uma black magic woman. Uma chinesinha linda. A bela da ucraniana. Uma amorosa tica. Fazer sauna com uma finlandesa de tez alvíssima. Uma loira bronzeada pelo sol da Califórnia. Receber uma massagem tailandesa corpo-a-corpo. Uma francesinha très coquette et coquine. Ter a performance de uma cerimónia do chá executada para mim por uma genuína gueisha nipónica de Kyoto. Uma colombiana igual à Lucia Tovar. Ter uma odalisca "egipcia", a fazer-me uma dança do ventre, como já tive um dia só. Uma endiabrada filipina. Aquela morena italiana de olhos verdes esmeralda. Zuquinhas saradas e popozudas. Ou até as tugas que me renovem a confiança perdida nelas. 

E as razões porque nas nossas mulheres portuguesas tenho uma menor confiança são: à uma, regra geral, não têm uma mente tão aberta quanto as de muitos povos estrangeiros. Segundo, creio preferir pessoas desenraízadas. Como o são as mulheres imigrantes. Sós, longe das suas famílias. E nessa qualidade de sós, são assim mais carentes de afectos. Mais receptivas ao amor. Mais tendentes a deixar as paixões invadirem suas existências.

Eu amo todas as mulheres. E por amar todas, feri sentimentos das que me estavam mais próximas.

Giacomo Casanova teve o leito de muitas mulheres mas nunca mais encontrava "celle-là". E então persistia nessa busca. Mas havia de facto, uma única, a tal "special one" para ele. Como existe para cada um de nós, homens. Que ele nunca podia esquecer. Mas também, por sua desgraça, ter não podia.

Eu creio só desejar hoje quem se queira comigo deitar, abrindo os lençóis ao mesmo tempo de ambos os lados do futon. Que não me deixe desejar outra coisa senão também segui-la na noctívaga hora de quando ao aconchego dum édredon de penas e de uns braços se quiser entregar.

Eu quero desejar a quem me deseja. Eu quero dar calor a quem o meu calor reclama. Eu quero é uma mulher que me empurre, me jogue na cama, no chão, na mesa, whatsoever, e que deseje brincar com todo o meu corpo como uma adulta criança e me faça sentir, à vez, ora um homem, ora um menino, quando me entregar de sua inteira vontade e ãnsia, igualíssima à minha, o seu corpo também. 

Eu quero quem sonhe os meus sonhos. Eu quero estar nos sonhos dela. E mesmo que essa "ela" ideal procure o calor de outros braços, que sejam sempre, sempre os meus os que ela toma como preferidos. Como ela não me deixará de me fazer preferir sempre os dela, mesmo que em outro leito eu busque por vezes carinho. Eu cada vez mais necessito de adormecer e acordar abraçado a outro corpo que aloja um coração palpitante. Agora que isso vou perder. Espero que por uns tempos breves apenas...

Eu quero a minha alma gêmea, para com ela para sempre caminhar lado a lado. Mas se a não encontrar, quero perder-me aos poucos com esta e aquela, que possa ser tão carente de afecto como também ciosa da sua independência. E por momentos, breves mas eternos enquanto durem, conscientemente iludir-me de que sou feliz e que aporto felicidade a quem me recebe. Como Giacomo Casanova tinha a arte e o engenho para o fazer.

Há p'rái tanta senhora carente e eu aqui, quedado estático, com minhas inatas - de outras vidas passadas, quiçá - capacidades de amar inaproveitadas. Poderia espalhar tanta felicidade por todo este mundo... Eu e outros eleitos dos deuses. Se ao menos quem necessita soubesse ter a sagacidade para adequadamente receber a dádiva dos que, como eu, andam ávidos de se darem.

Eu creio ainda querer ter mais um filho. Nem que tenha de ser de produção independente. Como o Cristiano Ronaldo fez... 

Já tenho a fortuna de ter uma filha nesta vida actual. Uma filha maior do que a maior das filhas, a Nastassja Kinski. Já devia estar muito grato aos deuses. Mas acho que ambiciono mais. Talvez porque a minha filha está quase independente... e um dia vai ter o seu ninho.

Mas... e se eu estiver a visar ao lado? E se a minha alma gêmea for afinal um homem como eu?

Nesse caso, continuo a querer para sempre caminhar lado a lado. Vamos tomar café juntos. Vamos beber absinto juntos. Vamos fazer a volta ao mundo, em lugar de fundarmos um sedentário lar. Vamos escrever e ilustrar um livro juntos. Vamos fazer a derradeira revolução mundial.

Eu quero uma muleta. Eu quero ser a muleta de alguém.

Se essa muleta for fêmea, tanto melhor, não dormirei só e terei outrém para dissipar o calor do magma do meu vulcão. Se essa muleta for antes macho, on s'en ira ensemble voir les p'tites femmes de Pigalle...

(esta última frase, para que melhor perceba quem não me segue completamente, é uma alusão subliminar a algo que coloquei no meu Mural do Facebook ontem,)

Bom, e agora ainda podia continuar, como me prupus no início, a filosofar sobre o conceito de família, abordando ainda aquela experiência social iniciada na Escandinávia nos anos 70: as denominadas famílias colectivas. Alguém se recorda? Quem quiser que vá ao Google, que por aqui hoje me vou quedar. Basta.

Hoje, faltam tantos dias como os dedos duma mão para que complete a metade de um século.

Por ironia, o local onde nasci, a maternidade da antiga Clínica de São Miguel, no bairro de Alvalade, nesta Lisboa portuguesa, é hoje um lar de idosos. Onde antes vidas começavam, hoje terminam. 

Eu não estou preparado para ser já um idoso. Eu ainda quero viver mais meio século, se mo concederem. Eu ainda me sinto num auge. Eu ainda quero ter mais um filho. Construir uma casa. Um lar. Ou então viver a viagem da minha vida.

Ó deuses, olhai por mim.

Prometo-vos que não mais serei cego ao ponto de não ver o valor imenso da oferta que porventura me façais de novo. Como o fui até agora com as vossas anteriores encantadoras dádivas.