quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

• Krankzinnigheid*

Sinto que estou lentamente a perder a razão. Que esta se me esvai por todos os poros. Deixando o vazio ser preenchido a conta-gotas por um estado mental de loucura, por enquanto ainda sob controlo.

Com a auto-consciência que me vai restando, ainda me vou apercebendo disso. Sei que estou a deixar fugir o juizo porque o vazio está a ser criado á minha volta, desde há anos. Estou a ficar cada vez mais só. Devido às minhas más escolhas nesta vida.

No início, fui um deus para aquela que ainda hoje julgo amar, por uns longos 9 anos, e hoje pouco ou nada lhe importo. Muito embora eu viva na ilusão de que seremos os melhores amigos um do outro que haver pode. 

Na década de setenta do século passado, a minha ávida atenção de pré-adolescente foi captada por um cartaz nas ruas, que tinha tão-só, sobre um macabro fundo negro mate, uma caveira humana e os parcos dizeres "droga, loucura, morte".

A recordação dessa mensagem dura e forte conduziu minha mente a questionar-se. Ao quê serei eu adicto. Qual será a causa da minha insanidade. E creio que descobri.

Sou adicto a estar apaixonado. Sou dependente de abraços e beijos. Esse hábito adquirido de todos os dias ter alguém para envolver com meus braços e olhar nos olhos dela provoca-me uma dor intensa com a sua actual carência absoluta.

Maldigo algumas vezes essa venal herança deste meu último findo relacionamento. Que dos outros anteriores não se me infiltrou nas entranhas com tal vigor. 

E uma vez que a esperança daquela união ter uma segunda vida é vã, pergunto-me onde encontrar alguém com a mesma carência que me foi injectada na alma e por quem eu possa sentir algo que em amor possa redundar? O horizonte afigura-se-me vazio.

Mas tal como Boethius escreveu a sua obra "Consolatio Philosophiae" no cárcere, com as dores da carência da liberdade tão amada - obra que tenho de passar a ler, uma vez que até a possuo -, assim eu também permito que esta tristeza que me invade e me vai tornando mais louco um pouco, suavemente, seja o lume da criatividade que vai fazendo com as minhas palavras jorrem e eu as transcreva para os meus blogs, não tendo este aqui o exclusivo da expressão escrita de minhas penas.

Darei a volta por cima algum dia? Antes de ser demasiado tarde?
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* Loucura, na língua neerlandesa, vulgo holandês.

2 comentários:

edite disse...

...Meu Deus!..julgava eu que vc estivesse "curado" dessa dor do amor...e vejo que tua carencia e solidão são extremamente profundas ainda, mas sei que vc está alimentando isso, pois do contrário ja teria investido esse poço de sensibilidade em outra direção!...fique com Deus!..bjos!

Giuseppe Pietrini disse...

Edite, eu te assustei com minhas palavras e em retorno vc me assusta com as suas, meu anjo. Vc me toma por um caso pedido, decerto. Mas saiba que mais do que dores de desamor, há a expiação da culpa minha e só minha, que eu tenho de fazer. Para com isso aprender. E sair mais forte do que antes.

E olhar em outra direcção, eu olho. Mas imagine-se num oásis cuja água vc contaminou e está secando. Vc não sabe por vezes se deva enfrentar a imensidão do deserto em busca doutro oásis ou aguardar pela pequena chance de que a nascente jorre de novo água pura.

Fique tranquila, que eu sei que os deuses ainda não me abandonaram. Do contrário, eles não teriam me ofertado sua amizade e carinho, Edite.

I shall overcome. I promise you. And myself.

Beijim! ;-)
JP