quinta-feira, 4 de abril de 2013

• Das relações - parte I

Das duas uma: ou eu sempre tive relações erradas… ou quem está afinal errado sou eu!

Já partilhei o leito conjugal com quatro mulheres. E de outras nais me apaixonei. Platonicamente, umas vezes e outras não. Mas não sou nenhum Giacomo Casanova! Jamais nesta existência de pecador e diletante tive uma só one night stand.

E talvez fosse isso o que a minha última relação amorosa deveria ter sido: apenas um caso de uma noite isolada. E ao invés foi a minha relação mais duradoura.

Sem dar por isso nove anos se escorreram. Numa boa felicidade dormente. Quiçá a de dois bons amiguinhos apenas, que se sentiam confortáveis dormindo juntos. Mas que foram vivendo vidas cada vez mais separadas um do outro. Sem sonhos partilhados. Sem quaisquer sonhos, ponto final. Num imprudente desapego. Como duas folhas caídas ao sabor do vento, rodopiando perto uma da outra, até que uma delas apanhe uma brisa mais forte..

Foi uma dura separação. Ainda o está sendo. E talvez depois do que foi dito, não o devesse ser. Mas é. É que eu fui crendo ingenuamente que já tinha a minha vida toda arrumada. Apesar das más escolhas que fui cometendo. Incessantemente. Como se fosse um inimputável.

Não quero guardar rancores nem mágoas, eu acho. Aceito. Não consigo compreender totalmente mas aceito. Ressentimentos pode é a outra parte ter de mim. Tenho de aceitar como sendo o preço que eu sempre soube que poderia ter de pagar pelas minhas acções ou omissões. Pela minha sede de experiências. Sede que nunca ninguém vai entender. Ninguém!

Não há um só dia que me esqueça da profunda decepção que de mim próprio ganhei por não ter sido mais inteligente. Mas não preciso, não quero e não posso ser lembrado. Já basta a dor de não conseguir esquecer, quanto mais ainda esta ser reforçada por fugazes recordações alheias à minha vontade.

Navegar, ou por outra, seguir em frente é preciso. Viver não é preciso. Porque de facto não vivo. Não tenho os dias mais felizes que haver pode. Ainda menos as noites.

Ah, as noites!… É aqui que está a mais-valia de nutrir uma relação a dois. Não é durante a dita "loucura do dia-a-dia" à luz do sol que mais precisamos do companheirismo de um cômjuge. É mais depois do "enfim, sós". E o pior da viagem nocturna quotidiana que todos fazemos não é começá-la sozinho. É terminá-la todas as manhãs sem ver um rosto que sorri para nós por termos acordado juntos.

Até ao fim dos meus dias estarei talvez condenado a fazer esta viagem em solitário. Porque por mais que busque, não encontro ou não consigo vislumbrar quem me entenda tanto ou mais do que esta última "esposa" minha, de uma bondade, santidade e, sobretudo, sagacidade algo ambíguas.

Or on the other hand, DON'T.
It's too dangerous. For both.
Tenho contudo a sorte de me ser oferecida pelos deuses uma pequena consolação. Se acordo fisicamente numa cama com uma metade demasiado pouco habitada, não me desperto quase todos os dias assim tão sozinho. Porque tenho uma alma amiga e companheira que na mais fresca alvorada cedo se espreguiça junto comigo em espírito. Um pequeno anjo da guarda com uma latente e mal contida revolta contra as injustiças de que se vê um alvo fácil. E uma insatisfação - de um tipo salutar - constante com o seu fado.

Fazemos questão de dizer um ao outro, com uma regularidade que a mútua fé num futuro de amanhãs que cantam nos pede, que estamos prontos para todos os novos dias que vão pingando a conta-gotas. Abraçamo-nos com palavras que nos elevam o ego. E lá vou eu quotidianamente para os cornos do touro com esse doping na alma.

E desse modo já não me senti nunca mais tão só, ao romper dos primeiros raios do sol. E quantas vezes antes deles!...

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