domingo, 17 de maio de 2015

• Sono que andas sumido…

Diz-se que quando não conseguimos de todo dormir quando isso seria suposto, mesmo a meio da noite quando aquela sensação de sono desaparece e ficamos numa espertina danada... é porque estamos acordados nos sonhos de outro alguém. 

Há já muito tempo que as minhas noites são passadas em solitário. E ultimamente não consigo dormir para lá das 6 da manhã. Às vezes até tão só depois das 5 e meia... E o que me chateia é que às tantas no sonho de outra pessoa posso estar mesmo, mesmo, a dormir munta bem, que nem um anjo e em conchinha!...  ;-)

A natureza tem horror ao vazio, dizem também… Mas o facto é que o vazio da metade do leito onde durmo não se preenche por si só.

E no entanto, eu sou um homem bom, caramba! Tenho tanto para dar! E a mesmíssima sede de receber. E há por aí tanta alma dona de um corpo carente, de excelência tal como eu…

Eu sei. Eu conheço-as. Houve tempos em que duvidei que sequer existissem para valer. E que ninguém mais seria capaz de me amar tal como o fui e tal como eu sou. Mas isso já lá vai.

Há uns dias os meus olhos caíram em cima desta verdade:

“Dormir com alguém é a intimidade maior. Não é fazer amor.
Dormir, isso que é íntimo. Um homem dorme nos braços
de uma mulher e sua alma se transfere de vez.
Nunca mais ele encontra suas interioridades.”
 - Mia Couto        .

Eu partilhei o meu leito com alguém que me deixou uma dependência de dormir ao lado de outro corpo. Durante nove longos anos a fio. Com uma ou outra noite de interregno.

Ela não foi a minha esposa. Não oficialmente. Julguei que era minha namorada. Que iríamos eternizar essa nossa condição. Mas não foi o caso. Fomos também amantes um do outro, quiçá. Mas no final, às tantas não passámos talvez de uma longeva amizade colorida.

Essa derradeira consciência apoderou-se primeiro de uma das partes. Só muito mais tarde, e depois de seguirmos caminhos separados, eu também debutei a interiorizar isto. E o amor - se este chegou a fluir um dia, quando o frio do inverno em ambos os corações pedia abraços reconfortantes - teve entretanto o seu outrora viçoso caudal drasticamente diminuído. Como um oued num vale nas montanhas do Alto Atlas em pleno estio.

Tenho de ver se renasço das cinzas, uma vez mais. Não sei quantas vidas ainda me restam, mas… O meu coração está carregado. E não tenho medo de o usar.

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