quarta-feira, 2 de novembro de 2011

• Love animal

Há actores que são animais de palco. Existem aqueles grandes animadores, extrovertidos naturais, a que vulgarmente chamamos de "party animals". Tivémos nesta terra um ou outro líder que nos governou que ficou com fama de animal político.

Eu creio ser aquilo que designarei de "Love animal"

Vivo a pensar em mais nada que no Amor. Nesta época atribulada em que coexistimos neste planeta, com a economia global em estado efeverscente, o que não pode deixar de contaminar a política mundial, resolvi divorciar-me da realidade que nos afecta a todos para me isolar no que me é quiçá tão essencial como o ar que respiro. Porque me sinto sufocar sem ter alguém do meu lado a quem amar.

"Sometimes, all I need is the air that I breathe and to love you". Quando eu era adolescente não me cansava de escutar esta canção dos Hollies, que para a minha alma funcionava como um hino. E hoje entendo-a tão bem na carne!…

Um exemplo eloquente do que digo ocorreu-me há dois dias. 

Viajava eu numa estrada, ao lusco-fusco. Ao longe vislumbrando na linha do horizonte as luzes da cidade grande da qual vinha em rota de aproximação. Cada uma daquelas milhentas luzes representando um lar. E em muitos desses lares, tantos me ditava a imaginação, se recolhia àquela hora uma alma solitária. Como eu. Para se proteger do frio da noite que caía, debaixo dum tecto e entre quatro paredes. Que ao menos isso possuia.

Já não teria, mais uma vez como eu, é a quem se encostar, para o seu corpo, bem como a alma, sentirem um pouco mais de calor reconfortante. E em leitos tantos se deitam sós demasiados corpos sedentos de algo que eu tenho dentro acumulado, desde que partilho esta condição de solitário com cada vez mais seres. Tanto calor humano de que disponho represado, para um dia desaguar em alguém… 

Bastas vezes são esses ditos corpos e as almas suas inquilinas detentores de beleza tal que os deveria proporcionar o mérito de serem não esquecidos sós e antes bem adorados. Julga assim a minha ínvia e fraca carne… a minha máscula sede, que poderia ser tão bendita a todas essas flores carentes de serem depositadas nessa estufa que um abraço aconchegado produz.

Por me assaltarem pensamentos tais é que me acho merecedor do rótulo de "Love animal". Haverá por aí tantos outros homens tão exclusivamente focados como eu no Amor?...

E além de não me distrair com mais nada a não ser com o querer dedicar a minha existência a amar - assim me habituaram nove anos junto com uma grande mulher, carente de receber abraços e de distribuir beijinhos a todos os que ama -, eu sou um bom ente calorífero, caramba!…

Antes de ser hoje desprezado, o meu ego era fartamente alimentado no seu orgulho com o epíteto de "vulcãozinho"!… Mas bolas!, até parece que quando findamos de constituir o "mais-que-tudo" de um só ser, é uma cidade inteira, todo um povo para quem já quedamos de ter valia. E então só nos apraz buscar quem nos volte a considerar dignos junto de forasteiros. 

Um dia encontrei na net um texto simples mas inspirador. Com o título "Necessito". Que pode ser lido integralmente clicando aqui. E do qual vou a seguir abaixo citar um excerto:

Necessito de um anjo...
Necessito de um namorado...
Necessito de um marido...
Necessito de um amante...
Não quero um amigo apenas;
Não quero apenas um anjo;
Não quero um amante e um marido;
Mas quero uma só pessoa que seja um amigo;
Anjo;
Amante e marido...

Creio reunidas em mim estas quatro qualidades. Em disponíveis quantidades generosas. E há toda uma procura vastíssima por aí, neste mundo imundo todo. Um imenso mercado à escala global, ávido do bem que detenho em largo stock

Breve vou enlouquecer se não houver aquela sobre quem escoar o Amor em conserva nas cavidades das minhas palpitantes aurículas e ventrículos! E no mais recôndito armazém de minha alma.

Em desespero de causa, já prescinderei de que os deuses me enviem um anjo. Um demónio servirá. Não tem de ser minha amiga. Até pode ser quem só me queira usar. Já não espero que me apareça a minha nova esposa. Talvez esta nunca mais venha até ao fim dos meus dias. Quiçá só venha a ter - e mesmo isso seria muita sorte - apenas alguns one night stands.

O que eu não posso deixar de rogar aos deuses é que estes ao menos me façam a oferenda de uma amante. 

E que esta seja como Afrodite. E que ela me puxe até eu me alcandorar até à sua mesma condição de ente divino.
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Para escutar a banda sonora original (ost) deste post, clicar aqui

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